16 dezembro 2006

Fitas em Argel



Quinta-feira, que é como quem diz “sábado”, fui ao cinema. Não tendo mais que fazer no centro comercial onde está a “cinemateca”, entrei com meia hora de avanço. Para meu espanto, a sala já estava cheia a 3/4 e principalmente de pares às turrinhas. Deve ser o local por excelência para isso. Meia hora depois do filme começar ainda entrava gente e uma hora antes de acabar já saíam. E continuaram a entrar e a sair. Ou seja, um vaivém do princípio até ao fim. Nunca vi tal. Quando as luzes se acenderem já a sala estava praticamente vazia.

O filme: “Indígenas”. Bem a jeito para um certo consumo local que se considera “ad-eternum” vítima e credor dos malefícios da colonização francesa. O tema é de arrepiar. No início da segunda guerra mundial, o bravo exército Francês tinha caído heroicamente em “dois dias”. A inexpugnável linha Maginot cumprira perfeitamente a sua função: impedir um ataque frontal dos alemães! Os malandros é que resolveram dar a volta e atacaram-na por trás. Não se faz!!!

Quando a França, ainda ocupada, quer marcar presença activa na guerra, tem que recrutar voluntários nas suas colónias e especialmente no Magreb, ali mesmo à porta de Itália, por onde os Aliados entravam no Sul da Europa.

Na frente, estes “indígenas” são usados como “carne para canhão” de fraco valor. Para os motivar são franceses, cantam a Marselhesa e vão cobrir-se de glória a libertar a pátria; na altura dos reconhecimentos, promoções e fotografias: à frente os branco-brancos!

O mais escandaloso é a França da “Liberdade/ Igualdade/ Fraternidade” ter decidido, nos anos 50, congelar as pensões dos ex-combatentes cujos países de origem tinham obtido a independência. Chamaram-lhe “cristalizar”. Uma verdadeira jóia de figura de estilo. Dá para imaginar o que significa uma pensão congelada durante 50 anos??

O filme foi apresentado em privado à Presidência Francesa e dizem que a Bernardette ficou tão emocionada, “Jacques, il faut faire quelque chose!!!”, que o Jacques resolveu corrigir. Felizmente que para o défice Francês, 60 anos após o fim das hostilidades, já devem sobrar poucos felizes contemplados. E os que sobram não devem continuar a pesar durante muito tempo mais!

2 comentários:

Maria Manuel disse...

Forma de estar e de encarar o cinema + tema do filme/contextualização + sinopse da história + crítica à política francesa… Em três penadas, quanta coisa!
:-)

bettips disse...

Gostei da tua descrição ...e ocorreu-me o pensamento dos nossos combatentes nas "colónias" como lhe chamavam. Ver as idas e as glórias com que embarcam agora... Nunca se fará a história daquela guerra maldita? Que enfim, todas as guerras são malditas mas aquela foi nossa e quanta gente ficou marcada para sempre. Abç