Achava eu que trocar os “vês” pelos “bês” era um erro crasso e inadmissível em bom português. Também achava que o Mirandês era um dialecto quase exótico e muito específico. Mudei de opinião recentemente depois de um breve contacto com esta segunda língua nacional.
Vejamos um exemplo, um pouco ao acaso: Selvagem em Mirandês é “Selbaige”. Façamos uma experiência. Peguemos numa amostra de população a norte do Mondego, excluindo a faixa litoral entre Aveiro e Coimbra, e registemos a percentagem de pessoas que trocam o “v” pelo “b” e que ignoram a nasalação final. Será provavelmente superior ao número das que pronunciam a palavra em bom português. Então, se alguém disser “selbaige” na Régua, está a cometer uma deturpação grosseira da língua. No entanto, se for em Miranda do Douro, trata-se de uma manifestação de riqueza cultural!
Há uma diferença. Em Miranda, provavelmente pelo isolamento, a especificidade manteve coerência e consistência. No entanto, no fundo, algo de comum tem que existir e de muito forte para tanta gente trocar os “vês” pelos “bês”.
Vivemos numa época em que caminhamos para a pulverização das línguas e de ressurgimento das línguas “minoritárias”, objecto no passado de uma tentativa centralizadora de aniquilação. E não são só os peso-pesados do Flamengo na Bélgica e do Catalão em Espanha. Por exemplo, o Galego e o próprio Mirandês têm uma visibilidade incomparavelmente superior à que tinham há uma dúzia de anos. A variedade de idiomas será provavelmente um dos mais complicados problemas administrativos da União Europeia e só tende a aumentar. Anedótica foi a “indispensável” versão em Valenciano do projecto de Constituição Europeia que afinal se confundia com a Catalã.
Porquê esta “necessidade” de realçar estas diferenças? Mudar a toponímia gravada nas pedras de Miranda ou de Santiago é assim tão relevante? Será porque tudo o resto está a ficar igual? Porque é que Valência tenta “desesperadamente” afirmar uma língua com diferenças ínfimas do Catalão? Será por recusar pertencer à órbita cultural de Barcelona? E tem que ser a língua a marca cultural diferenciadora? Caminhamos para uma nova Torre de Babel?
Não sei. Não sei se por cá necessitamos de definir um “Nortês”. “Num ixtou a ber a bantaige!!!” Mas estou menos preocupado com os meus “vês”.
Vejamos um exemplo, um pouco ao acaso: Selvagem em Mirandês é “Selbaige”. Façamos uma experiência. Peguemos numa amostra de população a norte do Mondego, excluindo a faixa litoral entre Aveiro e Coimbra, e registemos a percentagem de pessoas que trocam o “v” pelo “b” e que ignoram a nasalação final. Será provavelmente superior ao número das que pronunciam a palavra em bom português. Então, se alguém disser “selbaige” na Régua, está a cometer uma deturpação grosseira da língua. No entanto, se for em Miranda do Douro, trata-se de uma manifestação de riqueza cultural!
Há uma diferença. Em Miranda, provavelmente pelo isolamento, a especificidade manteve coerência e consistência. No entanto, no fundo, algo de comum tem que existir e de muito forte para tanta gente trocar os “vês” pelos “bês”.
Vivemos numa época em que caminhamos para a pulverização das línguas e de ressurgimento das línguas “minoritárias”, objecto no passado de uma tentativa centralizadora de aniquilação. E não são só os peso-pesados do Flamengo na Bélgica e do Catalão em Espanha. Por exemplo, o Galego e o próprio Mirandês têm uma visibilidade incomparavelmente superior à que tinham há uma dúzia de anos. A variedade de idiomas será provavelmente um dos mais complicados problemas administrativos da União Europeia e só tende a aumentar. Anedótica foi a “indispensável” versão em Valenciano do projecto de Constituição Europeia que afinal se confundia com a Catalã.
Porquê esta “necessidade” de realçar estas diferenças? Mudar a toponímia gravada nas pedras de Miranda ou de Santiago é assim tão relevante? Será porque tudo o resto está a ficar igual? Porque é que Valência tenta “desesperadamente” afirmar uma língua com diferenças ínfimas do Catalão? Será por recusar pertencer à órbita cultural de Barcelona? E tem que ser a língua a marca cultural diferenciadora? Caminhamos para uma nova Torre de Babel?
Não sei. Não sei se por cá necessitamos de definir um “Nortês”. “Num ixtou a ber a bantaige!!!” Mas estou menos preocupado com os meus “vês”.
2 comentários:
"Vês", como já foi bom teres pensado sobre o assunto? :-)
À laia de complemento de informação:
O território do português europeu
Amputado do galego, o português chegou a ocupar um território que corresponde, aproximadamente, ao território nacional de Portugal continental (…).
Os raros pontos onde a fronteira linguística não recobre a fronteira política são os seguintes: ao norte, em Ermisende (província de Zamora), fala-se uma variedade de português. A leste do distrito de Bragança, do lado português da fronteira, em Riodonor, Guadramil, Miranda e Sendim, fala-se uma variedade de leonês. Mais ao sul, do lado espanhol, o português é falado em Alamedilla, em Eljas, em Valverde del Fresno e em San Martín de Trevejo (dialecto oriundo do galego), em Herrera de Alcántara e em Olivença (localidade que foi portuguesa até 1657 e, depois, de 1668 a 1801). Trata-se aqui de sobrevivências dialectais que não impedem a difusão das duas línguas nacionais, o espanhol de um dos lados da fronteira e o português do outro. Também os arquipélagos da Madeira e dos Açores pertencem à área europeia da língua.
Como se vê, o português é uma língua nacional praticamente «perfeita». Ocupa, além disso, uma área que se manteve estável desde a origem. Portugal é um país que ignora os problemas criados, em outras regiões, pela existência de minorias linguísticas.
in História da Língua Portuguesa, Paul Teyssier
Enviar um comentário