“O Fiel Jardineiro” fez-me ir buscar ao meu baú este texto que escrevi o ano passado, a propósito dos 10 anos do genocídio do Ruanda. Sempre actual, sempre actual….
Há 10 anos tive o “privilégio” de seguir o genocídio do Ruanda em simultâneo nos meios de comunicação belgas e franceses. Foi a primeira vez que vi, com tamanha evidência, como um simples telejornal pode ser um instrumento de manipulação e de deformação da opinião pública.
A cobertura era pouco objectiva, dominada, por um lado, pela impotência e complexo dos belgas, antiga potência colonial, e, por outro, pela confusão e apreensão dos franceses relativamente a uma investida da influência anglófona naquela zona sensível.
É relativamente claro que na origem do drama estiveram interesses externos que atiraram gasolina para as brasas das tensões étnicas, provocando uma explosão muito maior do que a esperada.
Foi publicado recentemente um relatório da “Global Witness” sobre a situação em três países petrolíferos africanos, Congo, Angola e Guiné Equatorial. Segundo esta ONG, e só a título de exemplo, um em quatro dólares das receitas de petróleo é desviado pelo governo angolano, representando cerca de 1,7 biliões de dólares por ano, e, ao mesmo tempo, uma em cada quatro crianças angolanas morre antes dos 5 anos.
Além dos mortos e da miséria no presente, a falta de infra-estruturas sociais e de educação comprometem o futuro desenvolvimento desses países por uns bons anos.
Quase em simultâneo a “Transparency International” vem contar que somente 3 figuras somadas, Mohaemmed Suharto na Indonésia, Ferdinando Marcos nas Filipinas e Mobutu Sese Seko no Zaire terão desviado um total de 50 biliões de dólares, o equivalente a um ano inteiro de ajuda ocidental a todos os países subdesenvolvidos do mundo.
No tempo em que existiam colónias e colonizadores, estes, apesar de tudo, tinham a responsabilidade moral de organizar um mínimo de infra-estrutura social, sistema de educação e de assistência. Actualmente os antigos colonizadores continuam, em geral, a usufruir das matérias-primas das antigas colónias, subornando a elite dirigente. Como os países são “independentes”, desresponsabilizam-se totalmente da gestão que os “governos soberanos” fazem. É aparentemente cómodo mas é criminoso.
Numa altura em que se avança no conceito e na aplicação de uma Justiça Internacional, estas situações têm que ser consideradas crime. Os oligarcas locais são responsáveis mas, no hemisfério norte, existem cúmplices activos. Que, inclusive, não hesitam em instigar e patrocinar mudanças violentas de regime quando está em causa a perda da sua “influência”. O que se passou no Ruanda em 1994 foi, aparentemente, uma mudança que saiu fora do controle e que ultrapassou os padrões “habituais” das mudanças naquela zona do globo. Veja-se a história das últimas décadas na África Ocidental que está recheada de mudanças violentas sob o perfume do petróleo.
Tem que ser crime e o seu julgamento não pode ficar limitado aos autores materiais. O primeiro passo para haver alguma justiça é desmascarar a hipocrisia com que o mundo ocidental olha para esta situação de calamidade humanitária.
Há 10 anos tive o “privilégio” de seguir o genocídio do Ruanda em simultâneo nos meios de comunicação belgas e franceses. Foi a primeira vez que vi, com tamanha evidência, como um simples telejornal pode ser um instrumento de manipulação e de deformação da opinião pública.
A cobertura era pouco objectiva, dominada, por um lado, pela impotência e complexo dos belgas, antiga potência colonial, e, por outro, pela confusão e apreensão dos franceses relativamente a uma investida da influência anglófona naquela zona sensível.
É relativamente claro que na origem do drama estiveram interesses externos que atiraram gasolina para as brasas das tensões étnicas, provocando uma explosão muito maior do que a esperada.
Foi publicado recentemente um relatório da “Global Witness” sobre a situação em três países petrolíferos africanos, Congo, Angola e Guiné Equatorial. Segundo esta ONG, e só a título de exemplo, um em quatro dólares das receitas de petróleo é desviado pelo governo angolano, representando cerca de 1,7 biliões de dólares por ano, e, ao mesmo tempo, uma em cada quatro crianças angolanas morre antes dos 5 anos.
Além dos mortos e da miséria no presente, a falta de infra-estruturas sociais e de educação comprometem o futuro desenvolvimento desses países por uns bons anos.
Quase em simultâneo a “Transparency International” vem contar que somente 3 figuras somadas, Mohaemmed Suharto na Indonésia, Ferdinando Marcos nas Filipinas e Mobutu Sese Seko no Zaire terão desviado um total de 50 biliões de dólares, o equivalente a um ano inteiro de ajuda ocidental a todos os países subdesenvolvidos do mundo.
No tempo em que existiam colónias e colonizadores, estes, apesar de tudo, tinham a responsabilidade moral de organizar um mínimo de infra-estrutura social, sistema de educação e de assistência. Actualmente os antigos colonizadores continuam, em geral, a usufruir das matérias-primas das antigas colónias, subornando a elite dirigente. Como os países são “independentes”, desresponsabilizam-se totalmente da gestão que os “governos soberanos” fazem. É aparentemente cómodo mas é criminoso.
Numa altura em que se avança no conceito e na aplicação de uma Justiça Internacional, estas situações têm que ser consideradas crime. Os oligarcas locais são responsáveis mas, no hemisfério norte, existem cúmplices activos. Que, inclusive, não hesitam em instigar e patrocinar mudanças violentas de regime quando está em causa a perda da sua “influência”. O que se passou no Ruanda em 1994 foi, aparentemente, uma mudança que saiu fora do controle e que ultrapassou os padrões “habituais” das mudanças naquela zona do globo. Veja-se a história das últimas décadas na África Ocidental que está recheada de mudanças violentas sob o perfume do petróleo.
Tem que ser crime e o seu julgamento não pode ficar limitado aos autores materiais. O primeiro passo para haver alguma justiça é desmascarar a hipocrisia com que o mundo ocidental olha para esta situação de calamidade humanitária.
2 comentários:
Tem que ser crime. É crime.
É crime, com certeza, analisado segundo as leis internacionais (feitas segundo os conceitos cristãos).
A prosperidado das Democracias Ocidentais, faz-se em grande partes com recurso à conivência com estes crimes. Não vai ser fácil para nós, que temos água potável corrente em casa, aquecimento central, e vamos de carro para todo o lado, quando os povos dos países produtores de petróleo acordarem! Por isso eu nunca escreveria um "post" destes.
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