O texto abaixo foi escrito pouco depois do 26 de Dezembro de 2004 e publicado como “Carta ao Director” no jornal "Público" de 6 de Janeiro de 2005. Revisto à distância, penso que não terá andado muito longe da realidade….
26 de Dezembro de 2005
Nessa data será evocada a efeméride sobre o maremoto de 2004. Iremos rever algumas das imagens que hoje nos passam e repetem à exaustão.
Algumas zonas estarão reconstruídas, talvez melhor ou talvez caoticamente, como estavam antes do acidente. Alguns habitantes dos países pobres terão migrado internamente. Estarão como estavam em 25 de Dezembro de 2004, e continuaram, uma boa parte da população da Índia, Sri Lanka e Indonésia, sem o mínimo de condições sociais e com infra-estruturas inexistentes ou degradadas.
Alguma ajuda humanitária continuará lá, abnegadamente, como está noutras partes do mundo, mas agora sem o privilégio dos focos das televisões e dos directos sem conteúdo.
Estarão turistas em “resorts”, implantes com todas as comodidades, alguns a escassa distância dos miseráveis que continuarão com dificuldade em obter água potável. Os mesmos turistas que, em Pukhet, foram gozar a praia, depois da catástrofe, quando o mar ainda tinha muitos corpos para devolver. Os mesmos turistas que festejaram a passagem de ano, alheados dos riscos para a saúde pública dos largos milhares de corpos por enterrar.
Os embaixadores de Portugal no Mundo continuarão entretidos com os seus croquetes e esperando que nada importante ocorra que possa solicitar o seu trabalho e justificar o seu estatuto.
A Europa continuará a exportar os seus excedentes agrícolas, como o açúcar, que são subsidiados para serem produzidos em excesso e depois escoados para países do terceiro mundo, em pseudo-ajuda, a preços ridículos, inviabilizando a produção local e tornando esses países dependentes desta caridade.
Provavelmente nalgum canto do Mundo terá ocorrido outro “Darfur” com algumas dezenas de milhares de mortos perante simples palavras de circunstância.
A língua portuguesa terá ficado enriquecida com outra palavra para maremoto, derivada do japonês, e enxertada por aqueles para quem importar palavras é “in”.
26 de Dezembro de 2005
Nessa data será evocada a efeméride sobre o maremoto de 2004. Iremos rever algumas das imagens que hoje nos passam e repetem à exaustão.
Algumas zonas estarão reconstruídas, talvez melhor ou talvez caoticamente, como estavam antes do acidente. Alguns habitantes dos países pobres terão migrado internamente. Estarão como estavam em 25 de Dezembro de 2004, e continuaram, uma boa parte da população da Índia, Sri Lanka e Indonésia, sem o mínimo de condições sociais e com infra-estruturas inexistentes ou degradadas.
Alguma ajuda humanitária continuará lá, abnegadamente, como está noutras partes do mundo, mas agora sem o privilégio dos focos das televisões e dos directos sem conteúdo.
Estarão turistas em “resorts”, implantes com todas as comodidades, alguns a escassa distância dos miseráveis que continuarão com dificuldade em obter água potável. Os mesmos turistas que, em Pukhet, foram gozar a praia, depois da catástrofe, quando o mar ainda tinha muitos corpos para devolver. Os mesmos turistas que festejaram a passagem de ano, alheados dos riscos para a saúde pública dos largos milhares de corpos por enterrar.
Os embaixadores de Portugal no Mundo continuarão entretidos com os seus croquetes e esperando que nada importante ocorra que possa solicitar o seu trabalho e justificar o seu estatuto.
A Europa continuará a exportar os seus excedentes agrícolas, como o açúcar, que são subsidiados para serem produzidos em excesso e depois escoados para países do terceiro mundo, em pseudo-ajuda, a preços ridículos, inviabilizando a produção local e tornando esses países dependentes desta caridade.
Provavelmente nalgum canto do Mundo terá ocorrido outro “Darfur” com algumas dezenas de milhares de mortos perante simples palavras de circunstância.
A língua portuguesa terá ficado enriquecida com outra palavra para maremoto, derivada do japonês, e enxertada por aqueles para quem importar palavras é “in”.
2 comentários:
Tal e qual o vinho do Porto: o texto envelhecido é definitivamente mais refinado. Cumpts.
"Terrivelmente" brilhante ... só faltou o episódio do menino com a camisola da selecção nacional!
AMP
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