Não faltam relatos, documentários e produções mais ou menos hollywoodescas
sobre tragédias, misérias, covardias e heroísmos em cenários de guerra. Este
livro vai muito para lá disso. Aliás, parece que as adaptações
cinematográficas, mesmo uma recente de 2022, não conseguem atingir a
profundidade e sensibilidade da narrativa escrita.
Como pano de fundo, temos a I Grande Guerra. Se todas as
guerras podem ser consideradas estúpidas, esta, na minha opinião, consegue uma
espécie de recorde de absurdo. Começou sem grande causa, como se fosse anunciada
uma partida de póquer e todos decidem ir a jogo, um “jogo” em que milhares de
soldados são chacinados, vítimas de estratégias impotentes, quando por vezes
estava simplesmente em causa avançar umas centenas de metros, que se voltavam a
perder rapidamente.
O livro em causa faz-nos “viver” várias dimensões da
brutalidade, desumanidade e das feridas dilacerantes, físicas e psicológicas, sofridas
por uma geração arrancada a uma juventude e ao que tinha direito. Brutalidade
insana, deste a linha da frente às enfermarias de retaguarda. Uma deriva lenta
e irreversível para outro mundo com outros códigos e valores e um conflito interno
nessa transição. Mesmo antes de morrer, os jovens soldados já se vêm de certa
forma mortos e estranhos ao mundo de onde saíram e onde, mesmo que
improvavelmente sobrevivam, nunca mais poderão regressar. Há valores humanos ameaçados,
mas não propriamente heróis.
É um livro pleno de interrogações que deviam ser dirigidas e
respondidas por todos os fazedores de guerras. Lido, merece ser lido por todos.
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