6) O califado, a continuação do Estado Islâmico
Maomé morre em 632, líder religioso e político, sem deixar
definida a organização posterior da religião e sua administração. Não quis, não
pode, não o deixaram… não se sabe!
Começa uma disputa pela respetiva herança que não é apenas a
liderança espiritual. Há duas fações principais. Por um lado, os defensores da
primazia da tradição (suna em árabe), apontando Aboubakr, um dos companheiros
de primeira hora; por outro lado os defensores de uma linha familiar próxima,
neste caso apontando a Ali, seu primo e genro, casado com a sua filha Fátima.
São os xiitas, os seguidores de Ali.
A escolha inicial fica com Aboubakr como califa,
literalmente o sucessor, o que vem depois, cuja principal tarefa inicial serão
as guerras da apostasia. Guerrear para manter convertidas as tribos que se
queriam desvincular após a morte de Maomé. Os tempos são conturbados e dos
quatro primeiros califas, três morreram assassinados, até entrar em cena a
primeira dinastia, os Omíadas de Damasco.
Apesar das descontinuidades dinásticas e dos califados
“paralelos”, como os fatímidas no Egito ou aqui em Córdova, o princípio é existir
um único sucessor de Maomé que concentra todos os poderes e lidera todos os
muçulmanos. Isto traz alguns problemas.
O primeiro é a dificuldade no posterior desmembramento do
califado único em vários Estados-Nação que ficam decapitados da liderança
religiosa. Outra é a falta de uma estrutura hierárquica religiosa autónoma.
Como comparação e ilustração, a religião cristã tem padres,
bispos, cardeais e papa, que ao longo da história tiveram problemas e
interferência dos poderes temporais, é certo, mas que se mantiveram como
estrutura intrinsecamente independente. Quando foi precisar decidir e atualizar
princípios e práticas, houve concílios que o discutiram e decidiram. Quando
amanhã se quiser decidir terminar o celibato dos padres ou a ordenação das
mulheres, há um sítio para o tratar.
No islão sunita, isso não existe e daí a enorme dificuldade
em consensualizar a adaptação da prática religião às novas realidades e
resolver questões anacrónicas, como exemplo o estatuto da mulher.
Começou aqui
Continua...
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