19 setembro 2025

Olhando o Islão (VI)


 6) O califado, a continuação do Estado Islâmico

Maomé morre em 632, líder religioso e político, sem deixar definida a organização posterior da religião e sua administração. Não quis, não pode, não o deixaram… não se sabe!

Começa uma disputa pela respetiva herança que não é apenas a liderança espiritual. Há duas fações principais. Por um lado, os defensores da primazia da tradição (suna em árabe), apontando Aboubakr, um dos companheiros de primeira hora; por outro lado os defensores de uma linha familiar próxima, neste caso apontando a Ali, seu primo e genro, casado com a sua filha Fátima. São os xiitas, os seguidores de Ali.

A escolha inicial fica com Aboubakr como califa, literalmente o sucessor, o que vem depois, cuja principal tarefa inicial serão as guerras da apostasia. Guerrear para manter convertidas as tribos que se queriam desvincular após a morte de Maomé. Os tempos são conturbados e dos quatro primeiros califas, três morreram assassinados, até entrar em cena a primeira dinastia, os Omíadas de Damasco.

Apesar das descontinuidades dinásticas e dos califados “paralelos”, como os fatímidas no Egito ou aqui em Córdova, o princípio é existir um único sucessor de Maomé que concentra todos os poderes e lidera todos os muçulmanos. Isto traz alguns problemas.

O primeiro é a dificuldade no posterior desmembramento do califado único em vários Estados-Nação que ficam decapitados da liderança religiosa. Outra é a falta de uma estrutura hierárquica religiosa autónoma.

Como comparação e ilustração, a religião cristã tem padres, bispos, cardeais e papa, que ao longo da história tiveram problemas e interferência dos poderes temporais, é certo, mas que se mantiveram como estrutura intrinsecamente independente. Quando foi precisar decidir e atualizar princípios e práticas, houve concílios que o discutiram e decidiram. Quando amanhã se quiser decidir terminar o celibato dos padres ou a ordenação das mulheres, há um sítio para o tratar.

No islão sunita, isso não existe e daí a enorme dificuldade em consensualizar a adaptação da prática religião às novas realidades e resolver questões anacrónicas, como exemplo o estatuto da mulher.

Começou aqui

Continua...

Sem comentários: