14 setembro 2025

Olhando o Islão (V)


5) A construção do Estado Islâmico

Esta fase de expansão (e uma boa parte das seguintes) é feita pela espada, diferente de pelo menos os 3 séculos iniciais do cristianismo. Este nasce e expande-se em contrapoder. Cristo não empunha armas, não conduz exército nem administra territórios. É de realçar que o cristianismo encontra um poder, o império Romano, muito forte, sendo assim possível o contrapoder também ser forte.

Na península Arábica não há Estado. Principalmente na zona central da península há uma tradição de tribos autónomas e as cidades são algo recentes. A expansão do Islão é feita simultaneamente com a construção do Estado. Maomé é líder religioso e político (e militar).

No texto aqui, desenvolvo a minha visão das quatro dimensões nas interações da religião com a sociedade. Não o vou repetir na integra, mas sugiro a leitura. Muito resumidamente: a espiritual, original, a relação do ser humano com a transcendência; a comunitária, como característica identitária de um grupo; a regulamentar, com as regras do bem-fazer a irem para lá da dimensão espiritual e da prática religiosa, finalmente, a da manipulação, quando o poder decreta, interpreta ou manipula as regras para seu benefício próprio exclusivo.

A concentração de todos os poderes numa única pessoa é um fator potenciador da manipulação. Hoje na Arábia Saudita e nos Emiratos Árabes, pelo menos nestes, a apostasia, abandonar a religião, é punível com pena de morte. Perdão?? Isto parece mais castigo por deserção, não? A explicação é a seguinte. Aboubakr, o primeiro califa, sucessor de Maomé após a morte deste, tem dificuldades em se impor (detalhes mais à frente). Algumas tribos declaram que com Maomé tinham aliança, mas que ela se extingue com a sua morte… Aboubakr lembra-se que Maomé terá dito: “Muçulmano uma vez, muçulmano para toda a vida; filho de muçulmano, muçulmano será e muçulmano que o deixa de ser, morte”, criminalizando assim a apostasia.

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