5) A construção do Estado Islâmico
Esta fase de expansão (e uma boa parte das seguintes) é
feita pela espada, diferente de pelo menos os 3 séculos iniciais do
cristianismo. Este nasce e expande-se em contrapoder. Cristo não empunha armas,
não conduz exército nem administra territórios. É de realçar que o cristianismo
encontra um poder, o império Romano, muito forte, sendo assim possível o
contrapoder também ser forte.
Na península Arábica não há Estado. Principalmente na zona
central da península há uma tradição de tribos autónomas e as cidades são algo
recentes. A expansão do Islão é feita simultaneamente com a construção do
Estado. Maomé é líder religioso e político (e militar).
No texto aqui, desenvolvo a minha visão das quatro dimensões
nas interações da religião com a sociedade. Não o vou repetir na integra, mas
sugiro a leitura. Muito resumidamente: a espiritual, original, a relação do ser
humano com a transcendência; a comunitária, como característica identitária de
um grupo; a regulamentar, com as regras do bem-fazer a irem para lá da dimensão
espiritual e da prática religiosa, finalmente, a da manipulação, quando o poder
decreta, interpreta ou manipula as regras para seu benefício próprio exclusivo.
A concentração de todos os poderes numa única pessoa é um
fator potenciador da manipulação. Hoje na Arábia Saudita e nos Emiratos Árabes,
pelo menos nestes, a apostasia, abandonar a religião, é punível com pena de
morte. Perdão?? Isto parece mais castigo por deserção, não? A explicação é a
seguinte. Aboubakr, o primeiro califa, sucessor de Maomé após a morte deste,
tem dificuldades em se impor (detalhes mais à frente). Algumas tribos declaram
que com Maomé tinham aliança, mas que ela se extingue com a sua morte… Aboubakr
lembra-se que Maomé terá dito: “Muçulmano uma vez, muçulmano para toda a vida;
filho de muçulmano, muçulmano será e muçulmano que o deixa de ser, morte”,
criminalizando assim a apostasia.
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