12 janeiro 2021

Não, esta culpa não é do Governo


Há uns dias atrás escrevi que as restrições drásticas impostas pelo Governo à circulação dos cidadãos equivaliam a desresponsabilizar e infantilizar o povo, tratando-o como pequenos “Vitinhos”, que é preciso alguém mandar para a caminha.  A evolução da pandemia, entretanto conhecida, e o novo confinamento mais severo anunciado parecem sugerir que eu estava errado e que se houve falha da parte do Governo foi por não ter imposto mais restrições no Natal.

Entendo que não, que a culpa da explosão dos números não é do governo, mas sim de comportamentos individuais. Estamos num terreno onde não podemos assumir ser aceitável tudo o que não for proibido e que, se alguém fez asneira, a culpa é do Governo, que não o proibiu.

Sim, há questões de saúde pública e de saturação das infraestruturas sanitárias, mas… Não falta quem tenha tido necessidade de tratamento por comportamentos evitáveis do próprio ou de terceiros. Vamos proibir o tabaco para limitar o cancro do pulmão, as bebidas alcoólicas pelo fígado e demais complicações, os rojões por causa do colesterol, caminhar na rua pelos atropelamentos, passear de bicicleta para não haver ossos partidos e ir à praia entre as 12 e as 15h para reduzir o cancro da pele... e poderíamos continuar com uma longa lista de proibições destinadas a aliviar o SNS.

Há uma diferença fundamental a ter em conta. É entre os riscos conhecidos, integrados cultural e quantitativamente, e o Covid-19 onde pisamos terreno ainda pouco conhecido. Estamos habituados a ser “normal” morrer por falta de meios atempados de tratamento para uma doença “clássica”; morrer de Covid-19 por saturação do SNS é que não se aceita.

A culpa do contágio só será do Governo num país de Vitinhos. A saturação do SNS é outra história. Seremos efetivamente Vitinhos que sem ordem para ir dormir não o fazem?

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