24 fevereiro 2018

World Press Photo


A imagem acima do argelino Hocine Zaourar ganhou o prémio “World Press Photo” em 1997. Ficou conhecida como a Madona de Benthala e a imagem foi captada no dia seguinte ao terrível massacre ocorrido nessa pequena aldeia da periferia de Argel em 22 de setembro desse ano. A imagem é muito forte, apesar de tudo não tão forte quanto ao massacre em si, onde paulatinamente e metodicamente um comando de supostos terroristas islâmicos andou durante largas horas, de casa em casa, degolando, rachando cabeças à machadada e, para as crianças mais pequenas, projetando-as e rebentando-lhes o crânio contra as paredes, sem ser minimamente incomodado pelas forças da ordem posicionadas nas proximidades e, no final, abandonou calmamente o local no final, sem sobressaltos. Ainda hoje há dúvidas por esclarecer quanto aos autores e motivações desses massacres bárbaros, ocorridos nessa altura.

Como detalhe, a foto foi publicada em centenas de jornais no mundo, mas pouco apreciada no país de origem, onde o seu autor foi processado e acabou por ver ser-lhe retirada a acreditação profissional e, assim, impedido de trabalhar.

Esta história ocorre-me ao ver anunciados os finalistas ao WP deste ano e ao constatar a enorme percentagem de fotos de cenários de guerra ou de tragédia humana. Sim, a fotografia, especialmente de reportagem, serve para tornar visível desgraças em curso; não, a fotografia, mesmo de reportagem, não deveria ser apenas de desgraça; não, o entender das desgraças não deve ficar apenas pelas fotografias, por mais espetaculares e eloquentes que sejam. Sobre a história para lá da foto de 1997, recomendo “Qui a tué à Benthala” de Yous Nesroulah… e não o tentar comprar no país de origem.

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