06 agosto 2017

Podemos não estar de acordo…

Na sequência do texto anterior sobre abusos, não será certamente abusivo copiar para aqui um excerto da parte final do livro “Pourquoi j’ai cessé d’être islamiste”, de Farid Abdelkrim, muçulmano e ex-islamista francês.

Debater tem um sentido. Significa ouvir. Ouvir e entender que alguns dos meus concidadãos possam estar angustiados. Que eles possam sentir medo, por causa da visibilidade islâmica incarnada, defendida e/ou revindicada por alguns muçulmanos. Neste mundo, aprendi que Deus não se esconde sob um hidjab. Que a grandeza do Islão não se resume ao tamanho de uma barba ou à escuridão de um niaqb. Neste mundo, não dou o mínimo crédito à existência e à pertinência da “islamofobia”. Neste mundo, os muçulmanos – que eu acompanhei durante cerca de 30 anos e continuo a acompanhar – são todos diferentes. Há pessoas boas. Muito boas. E há igualmente malfeitores. Há de tudo. Há vitimas. Mas há também culpados. E inocentes. E idiotas. E santos. Verdadeiros. Há homens. E mulheres. E cidadãos. E mentirosos. E ladrões. E gulosos. E obcecados. E marialvas. E virtuosos. E integristas. E psicopatas. E doentes.

Neste meu mundo, eu não estou só. Há muçulmanos. E há todos os outros… neste mundo. Que contam igualmente.

Neste mundo, alguns creem em Deus… outros não…e há mesmo alguns que se tomam por Deus.

Neste mundo, enfim, debater é vital. Tem sentido. Isso significa alimentar. Mas significa também alimentar-se. As duas coisas ao mesmo tempo, falar e ouvir. É o direito de discordar, sem esquecer o direito de respeitar o desacordo daquele que me fala. É admitir a possibilidade que eu possa estar errado e que ele possa estar certo.

Este é, portanto, o mundo onde estou e onde vivo. Esta é a minha França. A minha concepção do debate também. A minha concepção do homem. E do muçulmano… Mas podemos não estar de acordo.

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