14 junho 2017

Aconteceu na Argélia


A Argélia é um país particular onde, por vezes, acontecem coisas um pouco difíceis de catalogar no vocabulário geral. Ficam assim conhecidas por “acontecimentos”. Há uma sequência de acontecimentos a começar em 1 de novembro de 1954 e acabar nos acordos da independência de Evian em 19 de março de 1962, embora algumas coisas ainda tivessem acontecido entre fações internas, depois da retirada dos franceses. Poder-se-ia ter chamado uma “guerra da independência”, mas tal não é consensual.

Mais recentemente ocorreu outra série, a começar em 11 de janeiro de 1991, com a suspensão do processo eleitoral que daria a vitória aos islamitas, e acabar, oficialmente, talvez na concórdia civil de setembro de 1999. No entanto, a agitação social começara antes, em meados da década de 80, e ainda hoje acontecem coisas. Poder-se-ia chamar “guerra civil”, mas foi muito mais e pior do que isso. Década negra é boa uma aproximação.

Na minha investigação do tema, onde há grandes histórias arrepiantes e também pequenas histórias mais felizes, passou-me agora este livro sobre a fuga do tenente Alili Messaoud. Em resumo, este piloto de helicópteros fugiu para não ter que disparar sobre o que não queria. Sozinho num helicóptero que supostamente precisa de um mínimo de 3 pessoas para voar, atravessou o Mediterrâneo entre a Argélia e as Baleares, a baixa altitude, quando o aparelho não estava sequer previsto para voar sobre água.

Aterrou no aeroporto de Ibiza, sem ser incomodado, depois de uma breve escala numa praia de Formentera, onde questionou um casal atónito de nudistas sobre a direção a tomar para o aeroporto, que não constava no seu mapa!

O livro em referência conta a história do tenente Alili Messaoud, antes e depois daquela loucura. Simples, mas vale a pena. Sobre os acontecimentos da tal década, fica a sugestão (e o conselho de não voar com eles para a Argélia…)

  • Qui a tué à Bentalha – Nesroulah Yous 
  • Chroniques des années de sang -Mohamed Samraoui 
  • La sale guerre - Habib Souaidia 
  • Dans les geôles de Nezzar - Lyes Laribi 

A escolher apenas um, o primeiro, de um habitante da aldeia massacrada, com o contexto dos anos anteriores e o relato minuto a minuto daquela noite bárbara de 22 para 23 de setembro de 1997. Uma nova circular da grande Argel, passa mesmo ao lado do bairro de Haí El Djilali, onde a atrocidade ocorreu. Impossível não ficar silencioso.

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