10 dezembro 2016

Ne me quittes, quoi?


Já tive oportunidade de expressar aí para trás a enorme admiração que tenho pela inteligência, sensibilidade, inspiração, humanidade, persistência e determinação do grande Jacques.

Um dos seus temas mais populares é o “Ne me quittes pas” e pode-se questionar se faz sentido alguém, por amor, dispor-se a ser “a sombra da tua sombra, a sombra da tua mão, a sombra do teu cão…”.

Acho que há duas leituras possíveis do poema. Essa, mais direta, com um suposto destinatário concreto, uma Marieke, Madeleine, Mathilde ou Isabelle, mesmo sem estar explicitamente nomeado. Outra, alternativa, não tem um nome próprio associado. Brel fala ao amor, à capacidade de se enamorar, à possibilidade de se apaixonar, coisa que, falhando, até os reis morrem.

E isso deverá será sempre possível, porque até do vulcão mais morto o fogo pode brotar de novo, porque mesmo nos campos mais áridos podem voltar a nascer pujantes searas.

Enfim, a poesia não tem que ter leitura única e redutora. Ao fim ao cabo, tantas vezes, são apenas palavras insensatas, mas que alguém entenderá, nem que seja invocando pérolas de chuva de terras onde nunca chove.

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