05 dezembro 2016

Inimigo do inimigo

O inimigo do nosso inimigo pode ser um aliado útil, especialmente num contexto de guerra, num dado momento, dentro de táticas de curto/médio prazo. Como o mundo não é a preto e branco, possui várias dimensões (nem se divide apenas entre direita e esquerda), essa solidariedade automática com o inimigo do inimigo, é muitas vezes uma simples manobra oportunista. Uma vez derrotado o inimigo, o casamento de conveniência corre o risco de não sobreviver à vitória, caso as diferenças de fundo permanecem e sejam significativas.

Estas considerações vêm a propósito do incensar da figura morta de Fidel Castro, a quem a esquerda reconhece o grande mérito de se ter oposto e desafiado um inimigo comum, o EUA. No entanto, a falta de liberdade no país, o subdesenvolvimento económico, as enormes desigualdades sociais entre as figuras do regime e o povo, as perseguições por delito de opinião, chegando às execuções, parecem ser irrelevantes para quem prefere destacar as cirurgias oftalmológicas oferecidas e o acolhimento de algumas crianças de Chernobyl. Evita Perón oferecia vestidos de noiva e máquinas de costura e o povo adorava-a; penso que a esquerda “engagée” nem tanto.

Esta brutal incoerência pode ter duas origens: ou uma espécie de cegueira, que perdoa tudo aos “nossos”; ou considerar que ainda estamos em guerra e, sendo assim, todos os inimigos do inimigo são para apoiar... até mesmo a Coreia do Norte ? Em ambos os casos, não falem em princípios, pode ser?

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