17 março 2010

Compulsos (8)

Começou em

Sem querer, ou por um acaso daqueles que acontecem quando se quer, saíram lado a lado. Falaram do sitio onde tinham deixado o carro, da dificuldade de estacionar ali e concluíram que até os tinham deixado próximos. Caminharam lentamente discutindo coisas banais. Essa era a conversa entre as bocas e os ouvidos. Entre os olhos e os corpos o diálogo era outro. Não seria bem diálogo, eram murmúrios surdos de barcos perdidos no nevoeiro.

Ele imaginava que a abraçava, tinha muita vontade disso e imaginava mesmo que isso acontecia. E se acontecesse? E como seria o pequeno-almoço do dia seguinte após umas horas? E o fim de semana ao fim de uns dias? E as férias depois de uns meses? .. e ? E deixaria ele de imaginar outras coisas mais, como, por exemplo, a Joana? Ou poderia imaginar umas coisas e viver outras? Pensava que não. Donde que: tudo menos pequeno-almoço!

Ela pensava ainda no João e como tinha sido tão claro. Quando saltara para ele sabia que iria ter o ano do leão e que a relação morreria antes da sua fúria afectiva expirar. De como na altura tinha dito “Que se lixe!”, quero viver isto nem que seja pouco, nem que seja uma vez, principalmente por poder ser só uma vez. Agora caminhava ao lado do triste, sentindo que ele não era nenhum felino, não corria esse risco nem esse prazer. Quando ele a olhou, com aquele olhar quente que abraça, o corpo dela aqueceu e de certa forma saiu do sítio para o enlaçar, contra a sua vontade. Inventou de repente um compromisso em atraso e saiu a correr. Ele parou, viu-a correr e de certa forma o seu corpo saiu dele e foi a correr ao lado dela, segurando-lhe a mão quente.
Continua para

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