03 dezembro 2007

Casa onde não há pão

Diz-se que é difícil gerir uma casa onde não há pão porque todos berram e ninguém tem razão. Eu não estou de acordo. Acho que é muito mais difícil gerir bem e com rigor uma casa onde nada falta.

Falta de pão é sinónimo de sobrevivência ameaçada. E, existindo um mínimo de nível cultural e de coesão, esse ameaça obriga a cerrar fileiras e a concentrar naquilo que é verdadeiramente relevante e essencial. É mais fácil alinhar e mobilizar uma organização que tenha fundamentos sãos nessa situação do que quando todos têm o pão de hoje e dos próximos meses garantido. É mais fácil fazer emergir e confirmar uma liderança forte nessas circunstâncias porque não há alternativas sustentáveis à meritocracia.

Uma organização rica tem indivíduos preocupados com a sua sobrevivência dentro da organização que está estável e segura. A organização é secundária face ao seu interesse pessoal. Numa organização frágil, ninguém se pode permitir essa luxo. A comunidade rejeitará um comportamento egoísta e individualista.

Em ambiente de abundância a liderança pode ser definida por decreto e consegue sobreviver deficiente sem ser submetida realmente à prova. Obviamente que a prazo, a abundância transforma-se em escassez porque a consequência de não criar é empobrecer.

É por isto que muitas empresas familiares não resistem à terceira geração. É por isso que num país é mais fácil implementar medidas de fundo em situação de crise aguda globalmente reconhecida. Churchill conseguiu ser um líder forte durante a guerra e caiu logo a seguir em tempo de paz. E, já agora, podemos ainda acrescentar aquela coisa de que é “difícil a um rico entrar no reino dos céus”?

Tem seguramente mérito conseguir uma boa liderança e fazer grande obra em situação de crise, mas acho que é muito mais difícil ter uma acção optimizada e eficaz em tempo de prosperidade.... E, assim, temos uma riqueza que mata ou, no limite, provoca uma evolução em ió-ió... Só quando as sirenes de alarme tocam é que o pessoal se mobiliza e trabalha a sério.

2 comentários:

Maria Manuel disse...

Remetendo-me unicamente ao exemplo de base, o doméstico, considero que são a falta e o excesso que causam diferentes, mas igualmente graves, problemas. Porque a máxima utilizada no título não se reporta só à gestão, mas ao relacionamento entre todos.

Carlos Sampaio disse...

MM

Não didgo que a falta de pão não crie problemas graves. O que quero dizer é que é mais "fácil" resolver esse problema do que identificar e atacar o fundo o problema do excesso...