Os recentes anúncios por parte de vários países de reconhecimento de um Estado Palestiniano parecem-se ser principalmente uma tentativa de pressão/castigo sobre Israel, que merece certamente ser forçado a mudar de atitude.
Se esse reconhecimento proporcionará um avanço consistente
na pacificação da região, é outra questão. Em primeiro lugar, os defensores do
“from the river to the sea…” dizem claramente que Israel não tem direito a
existir e não é com esses que a paz chegará. A história está cheia de migrações
na sequência da constituição dos Estados Nações, por exemplo após a queda dos
impérios (vejam o Otomano, com os gregos e os arménios) e no final das guerras
(vejam os milhões no centro da Europa após a II Grande Guerra). No entanto, não
há mais nenhum lugar no mundo em que as feridas dessas deslocações fiquem
abertas tanto tempo e com netos de refugiados a continuar a usufruir do
estatuto de “refugiados”.
Certo que as mortes de civis em Gaza têm que acabar, mas
decretar um Estado, a menos de alguma influência indireta sobre Israel, que
dará na prática? Esse Estado que representatividade terá, que governação terá,
que segurança trará? Em 2006 houve eleições na Palestina, ganhas pelo Hamas,
que deu guerra civil e administração separada das duas zonas, Gaza pelo Hamas e
Cisjordânia pela Fatah. Depois disso não voltou a haver eleições e não foi
Israel quem o impediu.
O que fez o Hamas livre em Gaza desde a retirada completa de
Israel em 2005? Preparou nova guerra. Podem decretar que o Hamas ficará agora excluído,
mas quem o financia encontrará certamente um Hamas-bis que retomará a cartilha
e a ação.
Na minha opinião, o fundo do conflito é haver fações árabes
que não aceitam menos do que a hegemonia árabe e muçulmana na região. Todas as
guerras neste conflito foram iniciadas pelos árabes: 1948, 1967, 1973 e 2023.
Com o tempo, líderes responsáveis, a começar por Sadat em 1978, foram
progressivamente entrando num processo de normalização e de aceitação de
Israel, mas “sobra” sempre alguém que retoma a atitude agressora. Certo que
Israel, tem muitas ações condenáveis na sua história, mas é óbvio que, com o
seu modelo de sociedade, se tiver a sua segurança garantida, será fácil
encontrar solução. Outubro 2023 provou que deixar Gaza livre durante 17 anos
não foi caminho para a paz.
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