10 fevereiro 2022

O bem sem o mal?


Não é a primeira vez que o senhor acima representado é por aqui citado. Admiro a sua produção literária, o seu humanismo (nem sempre de moda) e o seu discernimento.

Um destes estes dias passou pelas minhas mãos este livro, coleção de discursos e palestras por ele realizadas. Uma boa parte tem lugar nos anos seguintes ao fim da II Guerra Mundial e há um aspeto nessa ressaca da barbaridade que me interrogou.

Camus questiona o mundo em que vive, nomeadamente a sua desumanização. Não vou aqui transcrever o detalhe, mas há um sentimento de perda de referências e de dúvidas sobre o caminho e os valores do novo mundo. À partida, com a chegada da tão ansiada paz, depois de tantas atrocidades militares, do holocausto e do drama da ocupação e da resistência, em que o próprio se tinha envolvido ativamente, deveria ser uma altura mesmo de paz, de reencontro com a serenidade e a normalidade, num mundo em que não se massacram pessoas na mais absoluta banalização.

Na altura da guerra e da ocupação, havia o mal e havia a luta pela paz e pela liberdade, o bem. Este era um objetivo duro, mas claro e simples. Desaparecendo o mal, ficou o bem desorientado?

O bem só se consegue definir e estabilizar face a um mal? A mensagem de um Deus sem o contraponto de um Diabo, tem dificuldade em se afirmar e ser entendida, como a tese que sem a antítese não se aguenta? Não sei… talvez que se Camus pudesse ouvir isto diria, este tipo não entendeu nada, talvez… mas tentei!   

 

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