19 agosto 2019

Mínimos e máximos, veraneantes e pacientes

Acabou, ou está suspensa para já, a famosa greve dos camionistas de matérias perigosas. Terá sido das mais noticiadas e seguidas antes, durante, veremos ainda o depois, e, ao mesmo tempo, com uma secundarização enorme do que estava mesmo em causa: quais as reivindicações exatas, qual a parte “justa”, qual a parte abusiva e desproporcional, se o processo de negociação estava bloqueado ou não, etc.

O importante foi até que ponto a greve afetaria as intenções de voto no partido no poder e a vontade de ir à praia do povo em geral. É óbvio que existem uma série de serviços fundamentais a precisarem de serem garantidos, mas a fasquia foi colocada bem acima, para não perder os votos de quem queria ir à praia. Assistimos a um esforço enorme do governo para, na prática, evitar que a greve afetasse efetivamente os eleitores, perdão os cidadãos. Pode-se discutir se faz sentido ou não, se tamanha anulação do seu efeito põe em causa os fundamentos do conceito e o exercício do seu direito ou se há sectores em que não pode haver greves a sério.

Uma coisa que eu teria gostado era de ver esta determinação aplicada às greves cirúrgicas, dado que, ainda por cima no estado de saturação do SNS, adiar intervenções cirúrgicas é bastante mais grave do que o pessoal não ter combustível para ir à praia. Aparentemente haverá mais votantes veraneantes do que pacientes.

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