17 novembro 2016

Depois do dia seguinte

A vitória de Trump, improvável e até mesmo impossível na ótica de quem julga(va) saber o que vai ser este mundo, aconteceu. Numa primeira reação acreditei que o Trump Presidente seria bastante diferente do Trump candidato, como, de certa forma, a discurso da vitória pressagiava. Pensava eu que, face a um candidato manifestamente mal preparado, a diferença, positiva ou negativa, dependeria do aparelho que o viesse a rodear e a guiar… a quem ele delegasse a chatice de governar mesmo.

No entanto, o que se está a ver agora (não) acontecer aumenta a minha preocupação. Dentro dos potenciais nomeados para a sua equipa, há gente com ideias estranhas, mas, mais preocupante, são aqueles que tiveram ações perigosas, tais como John Bolton, um dos grandes responsáveis pelas manipulações feitas pela administração Bush e, nomeadamente, pela construção da fantasia das armas de destruição maciça no Iraque. Tem bastantes inimigos entre as pessoas sérias deste mundo.

Trump transmite a imagem de um candidato não preparado, mas inebriado pelo poder. Extramente preocupante é o grau de envolvimento da família. Que um Presidente apresente socialmente a primeira-dama, é uma coisa; que se rodeie de filhos e genros no melhor espírito tribal terceiro-mundista é muito inquietante. Ou é porque não encontra mais ninguém em quem confiar, o que é alarmante; ou por querer deliberadamente concentrar o poder (e os seus proveitos?) num círculo restrito, o que é assustador, especialmente para a escala e as responsabilidades mundiais do país em questão, que não se pode transformar numa United Trump States Corporation.

No fim, o problema principal do populismo não é a sua ação; é a sua herança.

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