19 abril 2009

Os gafanhotos e o “burro do inglês”



É uma velha história e nem sei o porquê dessa nacionalidade para o protagonista. Um inglês esperto, para poupar, decidiu habituar o seu burro a não comer. Foi-lhe diminuindo a alimentação gradualmente e quando tinha comprovado o sucesso da sua teoria e o burro já estava desabituado de comer, por azar, este morreu!

Lembrei-me desta história ao ler um artigo num dos últimos da “Economist”, que imagem acima publicada ilustrava, sobre o declínio dos “gafanhotos económicos”. Tentando explicar o contexto rapidamente. Ainda não há muito tempo, acreditava-se que os Estados podiam falir e era necessário ter fundos de pensões privados para “garantia” das reformas!!! (e não foi assim há tanto tempo!). Esses fundos bem nutridos pelas poupanças dos muitos crédulos, pela fortuna pessoal de outros, com enormes facilidades de alavancagem financeira e pilotados por “gestores todo-o-terreno” foram comparados às pragas de gafanhotos.

Entravam onde queriam e, friamente, em três tempos, com tratamentos de choque, limpavam as gorduras das empresas ex-públicas ou familiares esclerosadas. Faziam um belo brilharete e revendiam-na, geralmente ao gafanhoto seguinte, com enormes mais valias para grande satisfação dos clientes dos fundos: eram uns craques! O mundo não é a preto e branco e é perigoso generalizar. Algumas intervenções terão sido esclarecidas e com algum enquadramento estratégico sustentável. Mas na maior parte não. Com o objectivo de fazer números bonitos a curto prazo, muitas vezes com a gordura ia também a fêvera, desde que bem paga. Se depois, sem fêvera, a empresa definhasse, isso era irrelevante desde que o efeito surgisse para lá do horizonte temporal da intervenção dos devastadores insectos.

É relativamente fácil descobrir que uma empresa tem um valor de vendas/empregado baixo. É bastante menos evidente concluir que a solução seja simplesmente reduzir o pessoal para acertar o rácio (e até evitei falar em arrogância). Pode conduzir à síndroma do “burro do inglês”. Para criar valor de forma sustentada é necessário conhecer o negócio e ter uma visão que, sem os ignorar, ultrapasse a frieza dos rácios dos balanços e das contas de exploração. Aliás na tempestade actual é fácil entender quem se aguenta melhor. Por isso, pelas dificuldades no mercado financeiro e, porque não, pela quantidade de “burros” que por aí há em cuidados intensivos, os gafanhotos perdem brilho e músculo. Passaremos a ter empresas de sapatos lideradas, será espantoso, por quem entende de… sapatos. Outros problemas aparecerão, mas é um pouco repor alguma justiça neste mundo.

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