21 janeiro 2009

Antes do degelo

O futuro dos dinossauros

Ao procurar notícias sobre a evolução da contagem dos votos nos USA, deparei com a divulgação de um estudo, pelo Fundo Mundial para a Natureza, em que se previa que, devido às emissões de dióxido de carbono, todo o gelo do Árctico poderá derreter até o final deste século. As consequências seriam naturalmente catastróficas para uma boa parte da humanidade. Neste contexto, há um país que se recusa a ratificar o protocolo de Quioto porque, segundo o seu presidente, não pretendem mudar o seu “maravilhoso estilo de vida”.

Esta visão de curto prazo e de falta de preocupação com a sustentabilidade das políticas não é exclusiva deste campo. Há já alguns anos que os EUA vivem acima das suas possibilidades, suportados pelo sua máquina de imprimir notas verdes e pelos bancos centrais asiáticos que compram os dólares para evitarem a valorização das suas divisas e não perderem competitividade. Os défices comercial e orçamental dos EUA continuam alegremente a acumular até ao dia em que, por um lado ou por outro, mais rápido ou mais lento, se accionar um mecanismo qualquer de correcção que trará à economia mundial um efeito semelhante ao do degelo do Árctico para o meio ambiente.

Esse presidente foi reeleito e, desta vez, não se pode dizer como há quatro anos que foi uma vitória tangencial, de legitimidade suspeita, e que, embora não se esperando grande coisa, não se previa até que ponto chegaria. Agora ele e a sua política foram claramente sufragados pelos cidadãos americanos. “Eles” são mesmo assim!

Estes EUA mantêm dimensão mas, tornou-se mais evidente, que lhes falta, e intrinsecamente, uma série de coisas importantes como sensibilidade e visão estratégica de médio-longo prazo. Estão cada vez mais na cena internacional como um dinossauro (daí talvez, por identificação, o grande sucesso dos temas jurássicos!?!).

A personificação da luta contra o terrorismo em Bin Laden é também um sinónimo de um estilo de liderança frouxa e pela negativa. Quando Bin Laden desaparecer, desaparece o grande desígnio de G.W. Bush. Será por isso que ainda não foi capturado?

O discurso de vitória fez-me recordar os discursos do filme “About Schmidt”. Uma América hipócrita, sem rasgo com um assustadoramente vazio “politicamente correcto”.
Um dia, algo mudará e, confiemos que, antes do degelo do Árctico.
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Este meu texto, publicado no “Público” de 6.11.2004, faz-me lembrar como esse grande país, diferente de tudo o resto que há no mundo, tem uma capacidade impressionante para mudar e surpreender (nota: a “crise” actual já lá está anunciada!).

Realmente mudou e agora temos um novo presidente, “como deve ser”, felizmente antes do referido degelo…! Os EUA, ou pelo menos uma boa parte, estão felizes por exorcizarem a miserável herança que um tonto, talvez boa pessoa, mas tonto e muito mal aconselhado deixou.

Agora, uma coisa é ter uma excelente imagem, apresentar brilhantes discursos com uma mensagem cuidada e irrepreensível e outra coisa é fazer mesmo. Obama é um sedutor e isso ajuda muito. Se Obama parece ter tudo, e mesmo a imprensa mais crítica classifica o percurso dele como “perfeito”, é exagerado e ridículo falar já dos “anos Obama”.

Desejemos-lhe apenas boa sorte, sempre necessária, para lá do discernimento, capacidade de liderança e de decisão e, lá para a frente, poderemos então falar duns “anos Obama” à medida da enorme expectativa criada nos quatro cantos do mundo. A ver vamos…

1 comentário:

CLÁUDIA disse...

Concordo com a tua opinião.

É, para mim, muito intensa esta sensação de estar a ter o privilégio de viver um momento verdadeiramente histórico a nível mundial. Tudo o que está subjacente a esta vitória e a estes dias em termos ideológicos e de mentalidade (não só do povo americano), é extremamente importante.

E convenhamos que o Sr. Obama é realmente inspirador, uma figura com carisma e que transmite confiança. O que tem também de certeza a sua relevância na conjuntura mundial actual.

Estou mesmo muito satisfeita e ansiosa por ver o que se segue.
Yes We Can!!

Beijinhos. ***