26 janeiro 2009

Trabalhos de Sísifo na praia da Aguda



Diz-se que "há mar e mar" como quem diz que conhecer o mar não se limita a ver ondas e marés. E o mar tem coisas e manias que, quando lhe apetece fazer, o faz com muita força e determinação e não vale a pena contrariá-lo.

Eu percebo muito pouco de mar. Mas sei que na costa a sul do Porto, onde passei muitos verões, existe uma corrente importante de norte para sul que arrasta muita coisa, incluindo, naturalmente, areia, sendo que esta ao longo do ano não pára quieta. Quando um obstáculo aparece, provoca um desequilíbrio. As obras no porto Leixões afectaram a praia de Espinho, as protecções que posteriormente se fizeram em Espinho, afectaram Esmoriz e por aí fora.

Agora quando quase já não há pescadores, foi construído um enorme molhe de abrigo na Aguda. Esse obstáculo fez estacionar toneladas na Aguda, soterrando os rochedos e as algas que a faziam uma/a praia mais iodada do país e, naturalmente, essa areia aí a sobrar vai a faltar lá à frente, a Sul, na praia da Granja.

A empreitada em curso de transportar areia da Aguda para a Granja por enormes camiões a pisar e a estragar, é um verdadeiro trabalho de Sísifo! À imagem daquele que transporta a pedra até ao cume do monte, para a fazer rolar de novo até à base e recomeçar, aquela areia vai pelos camiões mas o mar, com as suas manias, encarrega-se de repor rapidamente a situação inicial.

Não sei se seria possível construir a infra-estrutura de abrigo de uma forma diferente com menos impacto, nem sei se isso foi ponderado e avaliado. Com o assoreamento na Aguda neste momento tão intenso e afectando já o movimento dos barcos dos pescadores, parece-me que esse impacto foi pouco ou mal avaliado.

Não sei qual a solução, mas gostava muito de, mantendo alguma protecção para os pescadores, voltar a ver rochas e algas na Aguda.

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