E pronto! De repente, Torga salta para as primeiras páginas. E, como não podia deixar de ser, na sufocante dimensão paroquial nacional do “disse que disse”, “esteve que não esteve”, o prato forte é a polémica e, em particular, a ausência do governo nas cerimónias recentemente realizadas.
Por Torga, deixemos de lado as cerimónias oficiais e a tinta fútil. Se Portugal tem uma identidade bem definida, e eu acredito que tem, ninguém como Torga a encarna. Torga é a solidez do granito e a resistência da erva da montanha. Torga troca tudo por um verso e por nada troca a clareza e a frontalidade.
A homenagem maior a Torga é simplesmente lê-lo, tal como eram simples as suas singelas edições de autor, desprovidas de artifícios e de tudo o mais que não fossem as suas palavras. E para sugestão, para começar, um livro de referência com tanto de lúcido quanto de apaixonado sobre “esta nesga de terra, debruada de mar”: “Portugal”.
Por Torga, deixemos de lado as cerimónias oficiais e a tinta fútil. Se Portugal tem uma identidade bem definida, e eu acredito que tem, ninguém como Torga a encarna. Torga é a solidez do granito e a resistência da erva da montanha. Torga troca tudo por um verso e por nada troca a clareza e a frontalidade.
A homenagem maior a Torga é simplesmente lê-lo, tal como eram simples as suas singelas edições de autor, desprovidas de artifícios e de tudo o mais que não fossem as suas palavras. E para sugestão, para começar, um livro de referência com tanto de lúcido quanto de apaixonado sobre “esta nesga de terra, debruada de mar”: “Portugal”.
2 comentários:
S. LEONARDO DE GALAFURA
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando.
S.Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá vinhedos
Nem socalcos
Na menina dos olhos
Deslumbrados.
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho.
MIGUEL TORGA in Diário IX
river
Certo. A melhor homenagem que podemos fazer a um escritor, é lê-lo.
Ainda assim, há quem o tenha lido, e vá continuar a ler, e, como tu, não queira deixar passar o especial momento de lembrança sem exprimir o que essa lhe faz sentir.
Foi assim com António Lobo Antunes, de entre outros. Não sei se porque gosto sempre de o ler, se porque, para além disso, ainda gostei especialmente de o ler, não resisti a mostrá-lo, lá no meu cantinho.
Um abraço.
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