Já vivi num país, que não primava pela eficácia nem pela meritocracia, uma coisa vai com a outra, e onde, para funções pouco exigentes e qualificadas, o mais recomendado era contratar alguém primo ou familiar de quem já lá estava. Como praticamente qualquer um servia, ficava garantido algum compromisso, quanto mais não fosse pela fidelidade a quem o tinha contratado.
Também se tornava prático. Em vez de procurar abertamente
quem poderia melhor servir, bastava dizer “Ó António, não tens por acaso um
primo ou sobrinho que queira ser aqui porteiro”. E o António tinha e arranjava.
Conforme a cultura, ou respetiva ausência, o nível do
recrutamento endogâmico podia subir e, especialmente para entidades não
solicitadas a concorrência, nem por ela ameaçadas, era prático generalizar o
critério. Só vantagens. Por um lado, o António beneficiava de uma tribo de protetores
devedores, prontos a retribuírem-lhe o favor. Por outro lado, era tudo boa
gente, bem previsível e comportada, retirando da equação, naturalmente,
competência, desempenho e respetivas consequências.
O trabalho de seleção era também muito simplificado e querer
reduzir a carga de trabalho não há quem não queira…. Grande trabalheira seria ter
que ir à procura de alguém pela competência. Ainda por cima, como dizia há uns
anos atrás um especialista no tema: “Os independentes são muito imprevisíveis…”
Sobretudo nada de surpresas. Imaginem que aparecia alguém
mesmo competente que ridicularizasse o desempenho da família instalada na corte…
!?
Quando olho para a lista de representantes, nomeados e
demais escolhidos para coisa pública ou para-pública e respetivo CV, fico com a
muito forte impressão que é tudo muito coisa de primos e irmãos. Basta isso,
para todos ficarem felizes e contentes… todos ? Depende do universo e da
ambição.
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