06 dezembro 2023

Por outros dias

Por estes dias celebrou-se um aniversário da morte de Francisco Sá Carneiro. Pondo de lado a vergonhosa incapacidade das instituições em investigarem e apurarem a causa direta e a fundamental do atentado (ver aqui), pode ser um momento de reflexão sobre o legado e personalidade de uma figura ímpar e determinante numa fase critica da história do país. O livro acima representado é uma interessante e instrutiva visita à sua vida e àqueles tempos.

Na altura era atacado como potencial fascista, quando o seu combate era o de retirar a tutela dos militares sobre os partidos, extinguir o Conselho da Revolução, rever a Constituição, e o aí decretado “caminho para o socialismo", e permitir a reversão das nacionalizações brutais de 1975. Visto a esta distância, estava errado? Certamente muito mais anti ditatorial do que aqueles que disso o acusavam.

No ponto de vista pessoal a integridade e frontalidade como assumiu a sua vida pessoal e amorosa são ainda hoje motivo de admiração. O grande progressista Mário Soares não hesitou em lhe dar uma canelada quanto à sua incapacidade de “governar a sua família”. Posteriormente, como primeiro-ministro, recusou-se a fazer passar uma alteração legislativa que lhe resolveria o problema do seu divórcio pendente, para não ser simultaneamente decisor e beneficiário.

Não convém olhar para Sá Carneiro como um imaculado herói cuja morte prematura santifica. No entanto há no seu desprendimento, sinceridade, irreverencia e clareza de princípios um exemplo que é importante realçar sempre e especialmente nos tempos que correm. Recomendo o livro.

 

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