Recordo-me daquele dia de dezembro em que o país atónito e
apreensivo recebia a notícia do acidente de Camarate. Na jovem democracia, nunca
algo de semelhante tinha ocorrido. O facto em si e as potenciais consequências
assustavam. Recordo-me dos julgamentos sumários populares: - Foi um acidente! –
Foi atentado! – Foram os comunistas! – Foi a CIA!
As conclusões oficiais e imediatas foram pelo acidente.
Durante anos, associar a palavra atentado a Camarate foi tabu e motivo de
indignação e insulto contra qualquer temerário que as evocasse. Dez (10!)
comissões parlamentares de inquérito foram apontando para o atentado e
evidenciando a falta de vontade e de eficácia da investigação criminal. Falou-se
da questão de um eventual tráfico de armas que condenou o Ministro da Defesa e,
por arrasto, o Primeiro-ministro.
Podemos imaginar que, na altura, assumir o atentado teria tido
consequências devastadoras na ainda frágil democracia. Podíamos? O que não
podemos, de todo, é passados 40 anos continuar sem saber o que realmente se
passou antes, no dia e depois. Ainda falta vontade? A revelação de toda a trama ainda fere alguém
com poder para a travar? 40 anos depois, é obrigatório saber.
E ainda:
Recordo-me da longa transmissão televisa das cerimónias
fúnebres, em véspera de eleições. Arriscando fazer futurologia no passado: Tudo
isto ajudou ou prejudicou o resultado de Soares Carneiro? Eu acho que
prejudicou e acabou por confirmar uma derrota já previsível. Estas situações
fortalecem os fortes e enfraquecem os fracos.
Soares Carneiro, sem chama nem carisma, “pau de cabeleira”
da AD ficou adicionalmente exposto na sua fraca figura. Quem não queria votar
nele, não mudou de ideias; quem estava na dúvida, em maior dúvida terá ficado
ao vê-lo desamparado, sem tutela.
Sem comentários:
Enviar um comentário