28 agosto 2018

Prerrogativas

Em plena crise de disponibilidade e fiabilidade do transporte ferroviário, leio que o operador deu prioridade a um comboio fretado pelo partido do governo, atrasando outros serviços, os do povo.

Certamente que, na imensidão dos problemas que enfrentam diariamente os utilizadores daquele meio de transporte, os distúrbios provocados por aquele “deixem passar quem é mais importante” foram uma pequena gota de água. No entanto, dizem muito da (má) forma como os governantes em geral deste país se situam relativamente aos serviços públicos do mesmo.

Gostaria muito que na outra grande embrulhada em curso neste nosso jardim que é a degradação do nosso Serviço Nacional de Saúde, bastante mais grave pelo que está em causa, gostaria que ministros e restantes apoderados o utilizassem mesmo como um cidadão lambda, já que o direito à saúde é indiscutivelmente universal. Gostaria que quem de direito e de poder se apresentasse nas urgências do hospital mais próximo, tentasse marcar uma consulta ou uma cirurgia. Gostaria que sentisse na pele e na saúde, na dor e na ansiedade o que sente o vulgar cidadão “não prioritário”, para quem eles também governam e a quem devem respeito e outras obrigações.

Obviamente que isso nunca sucederá. Da mesma forma que o seu comboio tem a prerrogativa de passar à frente dos demais, nunca eles sentirão esses problemas, que não são os deles. Enquanto isso não sentirem, não governam, governam-se.

Sem comentários: