19 setembro 2017

De spin a screwed


Não tenho nenhuma simpatia pelas máquinas de propaganda, que agora se chamam de “spin”. É um nome mais chique, mais “in”, usam ferramentas mais sofisticadas, mas os objetivos basicamente são os mesmos: influenciar e moldar a perceção da opinião pública. Podem argumentar tratar-se simplesmente de “realçar” uma perspetiva … mas a prática é muitas vezes pura e simplesmente enganar descaradamente. Enganar é feio e muito principalmente quando os mandantes são entidades públicas e governamentais, com responsabilidades éticas acrescidas face ao comum dos mortais. Por outro lado, em geral, há uma relação entre a necessidade de propaganda e o autoritarismo dos regimes. Quanto mais feios são, de mais maquilhagem necessitam.

Um destes dias a Bell Pottinger, multinacional de “Relações Públicas” e “Gestão da Reputação” baseada em Londres estourou e faliu. Criada em 1987 por Sir Bell, o spin doctor favorito de Margaret Thatcher, eram bons e especiais. Corriam o risco de atender clientes delicados, como a fundação Pinochet, a primeira dama da Síria, o ditador da Bielorrússia, os governos do Egito e do Bahrain, etc. Que fizeram eles, então? Aceitaram e executaram uma encomenda, com origem ligada ao poder na África do Sul, cujo objetivo era provocar agitação social, explorando as questões raciais. Isso mesmo... aumentar a tensão racial, na África do Sul e pago por próximos do poder em exercício. Mesmo isso!

Felizmente, isto passa-se no Reino Unido, onde a diferença entre os princípios e a prática não é tão grande como noutras paragens e a associação de empresas do sector baniu-os, provocando a sua queda, merecida. De tanto fazerem “spin”, acabaram “screwed”. In portuguese: de tanto enrolaram, acabaram enroscados (ou uma palavra mais feia).

Palpita-me que não será assim um caso tão único e dá para ter uma ideia do que (não) vai acontecendo por este mundo, graças à propaganda e à manipulação. A solução? Ser prudente, não acreditar em tudo à primeira e, sobretudo, diversificar as fontes (fica o problema de muitas vezes, sem saber, estarmos a ouvir apenas vários ecos da mesma fonte).

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