Quando há vários processos simultâneos com algumas semelhanças, é tentador fazer comparações e procurar paralelos e divergências nas causas e nas formas. O que pode haver de comum entre alguns movimentos de contestação em curso actualmente, como as primaveras árabes, a contestação na Turquia ou até no Brasil? A utilização de redes sociais é um ponto comum, é certo, como também o será serem usadas ruas e praças para os protestos, sendo que nada daí se conclui de muito relevante. Recordar ainda que Taksim em Istambul e Tahrir no Cairo começam ambas por “Ta” é … disparate.
No caso das chamadas primaveras árabes há certamente um contexto sociocultural com bastantes semelhanças nos vários países e, sobretudo, houve uma Al-Jazira, canal de televisão do Qatar, que ajudou a difundir e a propagar as contestações. Curiosamente no amigo Bahrain, ali mesmo ao lado, a ajuda foi outra. A Arábia Saudita foi apoiar militarmente o regime instalado, objecto de contestação popular. Se excluirmos estas e outras causas externas do xadrez geopolítico mundial que como, por exemplo, na Síria transformaram um movimento inicial genuíno de contestação num “simples” confronto sunita/shiita, penso que o traço comum nestas e em muitas outras revoluções passadas e futuras é simplesmente a população querer viver melhor. E este “melhor” declina-se em diferentes dimensões conforme os valores de cada um.
Para uns o melhor é haver mais liberdade, mais justiça, mais oportunidades, igualdade de acesso às mesmas, mais valorização do mérito e outras coisas desse género. No entanto, para muitos e muitos o “melhor” é simplesmente materialmente melhor como terem casa, carro e férias. Terem tudo aquilo que vêm nas imagens do mundo que lhes chegam lhes pela televisão e pela internet e a que eles acham terem direito.
Haverá países em que colocar uma parte da população a viver melhor é relativamente fácil. Basta actuar na válvula repartidora dos rendimentos dos recursos naturais que jorrem, como naturalmente a do petróleo, quando este existe. Noutros casos, essa mudança só se consegue com maior criação de riqueza e esta nascerá a partir do contributo esforçado de muitos (de preferência todos), criadas que estejam as condições para tal. Aqui pode surgir um ponto comum e fatal. Num país em que o sistema de valores não é são, em que a distribuição da riqueza, pouca ou muita, não obedece a critérios justos, pode instalar-se um entendimento generalizado de que não vale a pena contribuir mais porque a retribuição nunca dependerá da contribuição.
O facto de a população querer viver melhor e entender que isso se alcança apenas com a redistribuição dos recursos existentes, poucos ou muitos, não importando se justa ou injusta, o fundamental é estar-se individualmente do lado dos beneficiários, dá muito mau resultado.
Infelizmente este risco não é exclusivo do Magrebe, Médio-Oriente ou América Latina. Aqui mesmo, o grande desafio é manter na maioria da população a convicção de que a retribuição é função da contribuição e não de outras coisas mais, diversas, mas sempre injustas. Só com essa fé e consequente empenho se constrói um futuro melhor. E essa é uma das funções básicas de um Governo.
No caso das chamadas primaveras árabes há certamente um contexto sociocultural com bastantes semelhanças nos vários países e, sobretudo, houve uma Al-Jazira, canal de televisão do Qatar, que ajudou a difundir e a propagar as contestações. Curiosamente no amigo Bahrain, ali mesmo ao lado, a ajuda foi outra. A Arábia Saudita foi apoiar militarmente o regime instalado, objecto de contestação popular. Se excluirmos estas e outras causas externas do xadrez geopolítico mundial que como, por exemplo, na Síria transformaram um movimento inicial genuíno de contestação num “simples” confronto sunita/shiita, penso que o traço comum nestas e em muitas outras revoluções passadas e futuras é simplesmente a população querer viver melhor. E este “melhor” declina-se em diferentes dimensões conforme os valores de cada um.
Para uns o melhor é haver mais liberdade, mais justiça, mais oportunidades, igualdade de acesso às mesmas, mais valorização do mérito e outras coisas desse género. No entanto, para muitos e muitos o “melhor” é simplesmente materialmente melhor como terem casa, carro e férias. Terem tudo aquilo que vêm nas imagens do mundo que lhes chegam lhes pela televisão e pela internet e a que eles acham terem direito.
Haverá países em que colocar uma parte da população a viver melhor é relativamente fácil. Basta actuar na válvula repartidora dos rendimentos dos recursos naturais que jorrem, como naturalmente a do petróleo, quando este existe. Noutros casos, essa mudança só se consegue com maior criação de riqueza e esta nascerá a partir do contributo esforçado de muitos (de preferência todos), criadas que estejam as condições para tal. Aqui pode surgir um ponto comum e fatal. Num país em que o sistema de valores não é são, em que a distribuição da riqueza, pouca ou muita, não obedece a critérios justos, pode instalar-se um entendimento generalizado de que não vale a pena contribuir mais porque a retribuição nunca dependerá da contribuição.
O facto de a população querer viver melhor e entender que isso se alcança apenas com a redistribuição dos recursos existentes, poucos ou muitos, não importando se justa ou injusta, o fundamental é estar-se individualmente do lado dos beneficiários, dá muito mau resultado.
Infelizmente este risco não é exclusivo do Magrebe, Médio-Oriente ou América Latina. Aqui mesmo, o grande desafio é manter na maioria da população a convicção de que a retribuição é função da contribuição e não de outras coisas mais, diversas, mas sempre injustas. Só com essa fé e consequente empenho se constrói um futuro melhor. E essa é uma das funções básicas de um Governo.
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