13 novembro 2008

Sonhos vão...

A palavra “sonhos” é umas das mais fortes da literatura e tão nobre e elevada que nada a belisca.
  • “Tenho em mim todos os sonhos do mundo…”
  • “ O sonho comanda a vida…”.
“Sonhar” é associado a um outro "fazer" ou, se quisermos, a um seu sucedâneo. Fala-se dos sonhos como se fossem o lugar onde conscientemente tomam forma os anseios mais fundos, os projectos mais arrojados; tudo de acordo com os mais irrepreensíveis ideais. Nessa espécie de sala de cinema fechada e privada seríamos reis de tudo o que não aconteceu no dia que terminou e previsivelmente também não chegará amanhã.

Evidentemente não tenho nada contra este contar de histórias ao espelho, onde escrevemos o guião da “vida” sem restrições e com controlo total sobre a mesma. Muito pelo contrário, quem não “sonha” e não desenha anseios nem projecta ambições é forçosamente um ser muito limitado.

Agora, o que me parece é que chamar a isso “sonho” é desadequado, pelo menos no meu caso. Para começar há aquela frase de transição entre a vigília e o sono em que as coisas correm na cabeça de forma anárquica misturando tempos e cenários, numa verdadeira senilidade temporária. Depois os sonhos quando os há e os recordo, não passam duma desarrumação de coisas que aparecem, fogem e se atropelam. Sinceramente não gostaria nada que os meus sonhos se tornassem realidade. Seria um mundo fantástico que, se tem o mérito de me surpreender com desenvolvimentos inesperados e incríveis, contrariando aquela ideia de que somos mestres dos nossos sonhos, é um contexto de uma desarrumação insuportável.

Não sei se o meu caso será raro ou único, mas para mim esta palavra tem uma deriva no significado realmente impressionante.

Sem comentários: