11 abril 2008

Confesso que vivi

Gosto de títulos. Não dos académicos que são usados e abusados por quem os acha carimbo indelével e intocável de distinção.

Gosto dos títulos das obras e dos de textos em particular. Mesmo de uma obra com um eloquente título em branco. Um título é um exercício complicado entre um resumo, uma antítese e, muitas vezes, uma provocação. Quando coloco um título num texto, este já está feito, ou no papel, ou na minha cabeça. Depois, o afinar do texto exige também o afinar do título. Um afinar que tem que parar antes de chegar ao requentado ou ao esturricado. Por isso, eu apelo frequentemente ao adjectivo “cru” para os meus títulos, como... no título deste diário.

Há um título que eu gostaria que fosse meu e que, de tanto me passar à frente, sinto que me pertence um pouco: de Pablo Neruda, “Confesso que vivi”. Tem uma força que ultrapassa uma obra. É um título de vida ou de forma de vida. Para quem “confessa que viveu” nunca haverá hora para morrer e qualquer hora será boa. Está sempre pronto porque VIVEU e nunca estará pronto porque VIVE.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto deste texto ! Mesmo muito !
Um abraço de Portugal,
MJM

Carlos Sampaio disse...

MJM

Obrigado pelo abraço.
Retribuído.