12 abril 2025

Controlar submarinos e aviões


Há algumas décadas atrás discutia-se e negociava-se a compra de submarinos para a Marinha Portuguesa (o tal negócio que depois ficou famoso…) Faziam parte do pacote negocial as chamadas contrapartidas, ou seja, a parte do negócio a ser feito por empresas locais e outras repercussões económicas para o país comprador.

Um dos consórcios concorrentes, o francês e, por acaso, o que não ganhou, sugeriu que construíssemos na Efacec Automação e Robótica parte do simulador de pilotagem do submarino, utilizado para a formação dos tripulantes. Assim, fui visitar a escola de submarinos francesa em Toulon, onde pude ver vários simuladores, reproduzindo o posto de pilotagem de diversas gerações de submarinos (desculpem-me os submarinistas se o vocabulário não está a ser rigoroso).

Havia nitidamente três gerações e ambientes. A primeira, aí dos anos 60, muito analógica, com mostradores de ponteiros e tudo muito espartano. A segunda que situaria a partir dos 70, já com alguma eletrónica e sobretudo enormes painéis de interruptores retro-iluminados que, quando ocorria um problema, pareciam uma árvore de Natal (monocromática, a vermelho…) de tantas coisas a piscar em simultâneo. Finalmente a última geração, já informatizada, onde a informação era tratada e o fundamental corria bem visível num monitor, percebendo-se mais facilmente o que estava a ocorrer.

Lembrei-me disto recentemente ao “pilotar” um enorme Boeing 777. Apesar de ser um simulador estático, conseguia-se sentir um efeito de imersão e a sensação de que dirigir algo tão complexo pode ser tão simples… quando a rota está lançada e nada de imprevisto acontece. O problema estará sempre nos imprevistos e o grande desafio é, de facto, prever os imprevistos…   

2 comentários:

Fernando Aires disse...

Como fanático não praticante (por restrições de "tempo") de simuladores, "digital twins", lembro-me bem desse episódio que partilhaste. Obrigado.
Podemos talvez ver a coisa de outro ângulo: os simuladores são boa ferramenta para testar imprevistos e, antes, pedimos à para os identificar.
Hoje dava jeito um bom simulador da economia mundial, com output para TikTok, Insta, ou X para divulgar resultados...

Carlos Sampaio disse...

Caro F. Aires
Sim, penso que os simuladores serão supostos servir para isso mesmo, provocar imprevistos, porque sem imprevistos, tudo é relativamente fácil.

Quanto à simulação para a economia mundial não tenho grandes esperanças. No fundo isto são sempre “Ifs… then…” e há demasiados ifs e muito dificuldade em definir os then, nesta altura muitíssimo mais…

Como era: passar metade do tempo a fazer previsões e a outra metade a explicar porque as previsões anteriores falharam…