22 março 2012

Memória de Salazar

Depois da famosa votação do “maior português de sempre”, multiplicam-se os sinais de que com Salazar é que estávamos bem e de que com um Salazar hoje estaríamos melhor. É dos livros que nas situações de crise os ditadores emergem e as ditaduras se estabelecem. Espero bem não ser esse o nosso caso hoje, mas quero realçar que nessa nostalgia pelo homem de Santa Comba, há alguma vista grossa a coisas importantes. Vamos pôr de lado a censura, a PIDE e a guerra colonial que, cada qual por si, são já um peso bastante pesado. Não haveria na altura parcerias-público-privadas negociadas e geridas entre a simples catástrofe ignorante e o complexo caso de polícia. Não havia uma terceira autoestrada Porto-Lisboa em construção quando a segunda está vazia, mas também nem havia sequer uma. Associado às compras de submarinos e armamento não terá havido movimentos estranhos para contas partidárias porque não havia partidos. Escândalos de desclassificação de zonas de reserva ambiental para construir centros comerciais também não, por haver poucas ou nenhumas dessas zonas. Mas, mesmo que tivessem acontecido coisas parecidas, não se sabia porque não havia comunicação social que o publicasse…

Vamos então ao principal e assobiando para o lado relativamente a tudo o que está para cima. Vivia-se melhor em Portugal no tempo de Salazar? Quem não o viveu não sabe, mas pode informar-se. Basta ver estatísticas e comparar como estávamos face à Europa e como estamos hoje em termos de mortalidade infantil, rede hospitalar e cuidados de saúde, taxa de analfabetismo, cobertura da rede eléctrica, saneamento, água potável e outros indicadores fundamentais de desenvolvimento social e humano. Senhores saudosistas e ignorantes: peço desculpa mas nem sequer se pode dizer que apesar da ditadura e da guerra se vivia bem. Não, nem esse mérito se pode atribuir ao dito cujo: vivia-se miseravelmente mal.

1 comentário:

barcelence disse...

Eu nasci em 1980 e mesmo assim não posso aceitar quando alguém diz que estávamos melhor nessa "era". É muito fácil falar assim quando hoje em dia todos os jornais contam a nossa história e quando existe Segurança Social universal, boa ou má; e sobretudo (aqui parece-me que há realmente esquecimento), quando os nossos imigrantes viajam em liberdade e muitos deles qualificados precisamente por usufruirem de cursos pagos pelo Estado na sua maioria.
Olha, uma frase curta e grossa quando ouves algum saudosista com quem é imporssível argumentar: sim, o regime do Salazar era óptimo, por isso se explica a "fuga" para França e África (que, sendo "nossa", afinal só lá podíamos trabalhar munidos de carta de chamada ou passar férias com visto).