Quando há cerca de 15 anos me instalei na Argélia, ainda por
lá corria alguma atividade terrorista, embora em escala muito inferior à da década
anterior. Ao tentar avaliar objetivamente o perigo em causa, podiam-se fazer as
contas seguintes. Os terroristas matavam 2 a 3 pessoas por mês, principalmente
militares ou policias e em zonas remotas; na estrada morriam em média 10 a 12 por dia e por todo o lado. Um risco realmente
muito mais elevado.
Na mesma altura em Portugal, em 2006, morreram 850 pessoas
em acidentes de viação (Pordata) durante o ano. Ou seja, o número de mortos na
estrada em Portugal era mais ou menos equivalente ao das vítimas de terrorismo
na Argélia, sendo que lá até era mais fácil evitar os locais de risco. A grande
diferença, não quantitativa, estava na natureza do risco. O da estrada era-nos
conhecido e familiar; o outro era novo e isso desestabiliza.
Isto vem a propósito do folhetim com os riscos da vacina da
AstraZeneca. Talvez um dia venhamos a saber até que ponto o Brexit e a empresa
ser um novo jogador no mercado das vacinas contou para tanto ruído. A questão é
que ninguém olha (ou pouco) para as contraindicações e possíveis efeitos
secundários de uma medicação, quando a tem que tomar. Entende-se frequentemente
que há um risco, mas pode/deve ser corrido.
O Covid-19 assusta, é novidade e tudo o que a ele diz
respeito desestabiliza-nos. Mas, das duas uma, ou corremos o risco da doença ou
o da vacina. Não é possível esperar risco nulo e a razoabilidade é validada por
procedimentos que não foram feitos ontem e por entidades supostamente
informadas e competentes. As decisões políticas de põe e tira, tira e põe,
quando objetivamente não há novos elementos relevantes, são uma fonte de
desestabilização muito dispensável.
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