Confesso que até há pouco tempo me interrogava sobre o real significado e intenção do uso por alguns dos nossos políticos da expressão “republicano e laico”, como um “santo e senha”, distintivo da sua identidade. Parece-me pouco específico. Dentro dos políticos atuais, quem não é republicano? Está bem que existe o PPM monárquico, mas pouco significa. E quem não se assume como laico? Está bem que há/havia um partido com democracia-cristã na identidade original, mas na prática não me recordo de o ver pedir revisão favorável da Concordata.
Acho que recentemente encontrei a chave ao olhar para a
chamada Primeira República, da qual no ano passado comemoramos o centenário da
tenebrosa noite sangrenta de outubro de 1921. Uma noite em que foram
barbaramente assassinados dois históricos do 5 de outubro, Machado Santos e
Carlos da Maia e o primeiro-ministro de então António Granjo (para detalhes,
google.com). Tinham cometido o erro fatal de, sendo republicanos e laicos, não serem
“republicanos e laicos” exatamente como a cartilha única exigia.
Nesse período com 45 governos em 16 anos, “republicano e
laico” tinha um significado muito claro e concreto, distintivo, exclusivo… e
abusivo. Sim, esses tempos tiveram aspetos positivos, mas a instabilidade,
sectarismo e violência foram demasiados para se poder sentir nostalgia e alguma
simpatia romântica por um período revolucionário, incompetente e brutal, muito
especialmente se se acrescentar a palavra “ética” à invocação.
Mais importante do que o mal feito até 1926, incluindo a
impreparada, irresponsável e dramática participação na Grande Guerra, o mais trágico
é o 28 de maio ser filho direto destes comportamentos “republicanos e laicos”,
para os quais já não havia pachorra. Daí que, hoje, o balanço objetivo da
Primeira República deveria ser, didaticamente, muito pouco nostálgico. Foi dela
e dos seus erros que saiu o Estado Novo. Como confirmação, podem visitar o
Museu do Aljube… um bom exemplo onde se vê como há ainda quem se recuse a ver e
aprender.
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