O Islão é uma religião com génese relativamente recente. 14 séculos constituem uma distância temporal que já permite alguma precisão histórica. Esta religião, também de Abrão e Moisés, com raízes comuns ao judaísmo e ao cristianismo, originou um edifício muito diferente. Ao contrário do Cristianismo que se desenvolve dentro de um organizado e estruturado império Romano e a César o que é de César, o Islão vai-se desenvolver numa Arábia tribal, sem estruturas de Estado. De certa forma, Maomé será também César, o primeiro, e o crescimento e implantação do Islão vão coincidir com a criação de um Estado.
A morte de Maomé e respetiva sucessão constituíram um
momento delicado, até porque ele não deixou definida a forma de transição do
poder após a sua morte. Estas obras de Hela Ouardi são uma fascinante viagem
por esse tempo, as convulsões no islão pós-Maomé e os sistemas de valores que
se disputam. Se a primazia deve ser dada aos companheiros do profeta,
independentemente das suas origens sociais, à sua tribo, os quraish, que já
antes dele constituam uma elite na paisagem social árabe, ou à sua família
próxima, incarnada pelo seu primo e genro, Ali.
Esta época dos primeiros califas passou por várias fases e com
alternância das diferentes correntes. Se pensarmos que desses 4 califas, 3
morreram assassinados, dá para imaginar um pouco as convulsões vividas. Depois
de Maomé, a Arábia não voltou a ser a mesma e uma boa parte do mundo também. As
razões desta evolução são importantes para entendermos o que se passa hoje.
Para lá da mensagem e das ações em vida do profeta, a sua
sucessão é determinante para a expansão e consolidação do novo Estado. A
coincidência entre a liderança politica/militar e religiosa, a criação e a
expansão do império árabe com a religião como aglutinadora e legitimadora, os
pergaminhos e a antiguidade na fé como avalizadoras da autoridade terão sido
fundamentais para a federação das tribos e a eficácia militar, mas...
A dificuldade e impossibilidade de separar as duas
lideranças são talvez a razão de algum anacronismo e dificuldade de
consolidação dos “Estados Nação” nos dias de hoje.
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