É um título que certamente dará direito a etiquetarem-me de pafioso e outros mimos, mas adiante…
Desde há vários anos que os partidos do poder em Portugal (e não apenas) se tornaram bastante próximos nas suas práticas (incluindo nas más). Em parte, por acomodação, mas, na minha opinião, fundamentalmente por o modelo social em que vivemos estar estabilizado e poucos estarem verdadeiramente interessados em aventuras extremas. Há quem vote em extremistas, mas, muitas vezes, apenas como protesto e com a convicção e a esperança de que estes nunca chegarão mesmo ao poder.
Depois das eleições de outubro de 2015 algo mudou. Temos um governo de “esquerda” que, supostamente, estará a implementar politicas significativamente diferentes das do consulado de “direita” anterior. Ora bem, isto é um embuste. O governo sob a troika foi o que foi e seria o que foi, independentemente de quem governasse – vejam o exemplo do bravo Tsipras. Os tempos estão substancialmente melhores do que em 2011, permitindo algumas flores, algumas faturas das reversões chegarão, mas estamos na fase do folgar as costas.
O que me choca neste momento é que no frenesim de “afirmar uma diferença”, muito mais de contexto do que de “política” (ou a bancarrota de 2011 foi devida à conjuntura internacional e as melhorias de 2017 fruto desta governação?), não há um mínimo de serenidade e de seriedade na discussão pública. Vai tudo a pontapé. Passos Coelho, por quem não tenho apreço especial, é depenado todos os dias (se está politicamente morto, podiam deixá-lo jazer em paz), Francisco Assis é delapidado cada vez que abre a boca, Cavaco Silva falou uma vez e foi um “Ai Jesus” (Mário Soares, esse sim, tinha estatuto para dizer o que lhe apetecesse, todas as semanas).
Ou seja, uma voz que apresente uma visão diferente e crítica, não é analisada e contestada pelo conteúdo dos seus argumentos. É etiquetada, insultada e “está tudo dito”. Chama-se a isto intolerância e é bastante antidemocrático.
Os que agora me estão a insultar e a catalogar de pafioso, podem recuar e ler o que fui escrevendo entre 2011 e 2015. Se quiserem, é claro.
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