02 agosto 2023

O que há de novo

Depois de uma longa interrupção no blog, se não inédita pouco menos, o recomeço é sempre mais difícil. Sobretudo quando atrás está o Camões.

Nestes quase dois meses passaram-se muitas coisas e certamente teria tido tema para as duas a três publicações semanais da praxe, infelizmente sempre e sempre mais do mesmo. Nada de relevante consigo identificar e isso é um problema.

Vamos falar da (des)qualificação da nossa governação? Das caricatas conclusões da CPI da TAP, do ridículo (não) debate do estado da nação e de outros casos de irresponsabilidade e desrespeito pelo país e pela nossa inteligência, a que gostam de chamar casinhos? No fundo, nada de novo e o mais preocupante é o pouco sobressalto cívico que tudo isto provoca.

A democracia só funciona, mesmo, a qualidade do governo e consequente bem-estar de quem por cá vive com escrutínio e, fatalmente, alternância. Novos rostos, novas ideias, novas atitudes são fundamentais. Tudo coisas que faltam a este governo ressequido. Depois de vermos ministros chegarem diretamente da Camara de Lisboa, irão agora buscá-los às juntas de freguesia da capital? Ou virá alguma jovem estrela brilhante, tipo Miguel Costa Matos? Quem de decente e competente este (des)governo consegue motivar e recrutar?

Neste contexto, o PS deveria estar a ser fortemente penalizado pelo eleitorado. Mesmo que o líder do PSD não seja uma força da natureza, é necessário arejar a casa. O cheiro a podre torna-se insuportável, para quem tenha nariz, e a seguirmos por aqui vai um dia ser bem-vindo um autoritário (como em 1928, há quase 100 anos).

Parece que já não estamos no tempo em que os partidos do arco da governação não tinham (nem assumiam) diferenças fundamentais e o eleitorado flutuante forçava a alternância pelo mérito, por estar farto do inquilino de S Bento e muito pouco pela “ideologia”. Depois de 2015 inventou-se uma clubite, particularmente à esquerda, onde para evitar um governo “inimigo”, fatalmente malvado, se juntam em frente virtuosa socialistas (sociais-democratas) europeus, órfãos de Estaline, admiradores de Maduro, tolerantes de Kim Jong, e tudo o mais que for preciso.

Não é só cá. Veja-se a Espanha aqui ao lado, onde Pedro Sanchez, para reivindicar o direito a governar, se assume líder de um suposto bloco vencedor, indo muito para lá do equivalente da nossa “geringonça”. Acrescenta o Bildu, herdeiros do terrorismo da ETA, pouco arrependidos, e fundamentalistas e racistas catalães (sim, porque o racismo não é apenas o da cor da pele).

Em resumo, o que há de novo é que, pelo menos na Península, democracia já não rima com meritocracia e racionalidade. Instaurou-se uma atitude tribal onde se “é de um lado”, como se “é” do Sporting, Benfica ou FC Porto. Certo que entre os nossos irmãos sempre houve duas Espanhas, com um nível de intolerância mútua elevado e uma brutal guerra civil não há muito tempo. Por cá, a guerra civil foi há mais tempo, na afirmação do liberalismo, mas entre 1910 e 1928 também não faltou intolerância e visões “religiosas” das virtudes “ideológicas”, que demasiados excessos justificaram.

Sim, há algo de novo, face às décadas recentes, mas relativamente à Primeira República o odor é semelhante. Já terá nascido algures numa Santa Comba?

2 comentários:

jorge neves disse...

Andava desaparecido. Não desespere, a doença é mundial e acerca de alternativas, cá no canteiro a paisagem é desoladora. Mas como canta o poeta "o mundo pula e avança".

Carlos Sampaio disse...

Pois...
Diz-se que em democracia cada país tem o governo que merece...
O problema é que a ementa está cada vez mais pobre.

Os partidos tradicionais, liderados por ex-jotinhas, não se conseguem renovar nem ter propostas/ideias - estão esclerosados por esta "juventude"