03 dezembro 2020

Alguma coisa acontece


Cantava Caetano Veloso que alguma coisa acontecia no seu coração, que só quando cruzava a Ipiranga e a Avenida São João…

Noutras latitudes, outras músicas, ou mesmo sem música, mas algo acontece no meu coração quando cruzo Passos Manuel e Santa Catarina, mesmo sem rimas e com uma toponímia muito menos sonante. Dispensando considerações arquitetónicas e históricas que não as sei fazer, aquele cruzamento tem algo de especial.

De um lado a Batalha, o meu porto de chegada ao Porto, durante muitos anos de transportes públicos; Santa Catarina, em boa hora pedonal, que rasga a cidade e onde se ancora uma boa parte do comércio tradicional; Passos Manuel que mergulha para o rio da Avenida, sendo que as ruas no Porto vão muitas vezes desaguar a rios e vales. E a subida para os “pobeiros” e para o porto mais profundo e popular, onde não há “spots” turísticos de nota e a cidade pouco mudou. Ali ao lado o Coliseu, onde tantos dias se ouviram coisas como o primeiro dia e a quem a cidade recusou o último dia. E depois, ao dobrar da esquina, o majestoso Majestic, agora a fechar as portas, indefinidamente.

A primeira reação é de um duplo lamento, pelo desaparecimento daquele espaço, de uma riqueza única no género e pelo que significa um café tradicional a menos na vida da cidade. Numa segunda vista, um café que cobra 5 Euros por um café, não é um café social da cidade. É um local a ser visitado por experiência, uma vez, em visita à cidade, que vive da rotação das experiências e da cadencia das aterragens em Francisco Sá Carneiro. Não seria possível “ter dado uma volta”…? Entre o Majestic fechado e o Imperial McDo, nem sei que diga.

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