05 dezembro 2020

O Tino não chegou...


Aproximam-se as presidenciais e, com tanta previsibilidade no resultado, ainda nos arriscamos a ver algumas surpresas, não no principal, mas no acessório.

Surpreende-me a campanha anti-Chega, baseada no caráter condenável da sua ideologia. Eu acho que o problema principal com o Chega não é a ideologia, falta-lhe tanto em ideologia, quanto lhe sobra em incoerência e oportunismo. Se André Ventura julgar que falar contra os ciganos lhe traz votos, ele avança; se entender que uma gravata com riscas amarelas e bolinhas roxas funciona bem, ela vai já comprar uma dúzia. O Chega não tem ideias feitas, nem nenhuma conceção fechada; ele luta pela influência e pelo poder, chutando com o pé mais à mão.

O seu crescimento e aparente sucesso, pelo menos temporários, vêm de preencher um espaço deixado vazio pelos “do costume”. Escalas e estilos à parte, sabemos que os do costume também não se importam se ser ateus ferrenhos de manhã e ir a Fátima à tarde, se isso ajudar.  A diferença é o Chega ultrapassar limites considerados linhas vermelhas, algumas delas pintadas um pouco à força.

Lembram-se do Tino de Rans nas últimas Presidenciais? Não precisou de ideologia nenhuma para ter 152 000 votos, bastou ser radicalmente diferente dos padrões estabelecidos. Viajando um pouco: Pepe Grillo em Itália, Tiririca no Brasil e Trump nos USA têm o seu sucesso baseado exatamente na mesma tática: enviar “aquela parte” os de sempre e esse palavreado encontrar ouvidos recetivos.

Gritar “Aqui d’el Rei!” contra a “ideologia” do Chega, manifestamente não chega!

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