Surpreende-me a campanha anti-Chega, baseada no caráter condenável
da sua ideologia. Eu acho que o problema principal com o Chega não é a
ideologia, falta-lhe tanto em ideologia, quanto lhe sobra em incoerência e
oportunismo. Se André Ventura julgar que falar contra os ciganos lhe traz
votos, ele avança; se entender que uma gravata com riscas amarelas e bolinhas roxas
funciona bem, ela vai já comprar uma dúzia. O Chega não tem ideias feitas, nem
nenhuma conceção fechada; ele luta pela influência e pelo poder, chutando com o
pé mais à mão.
O seu crescimento e aparente sucesso, pelo menos temporários,
vêm de preencher um espaço deixado vazio pelos “do costume”. Escalas e estilos
à parte, sabemos que os do costume também não se importam se ser ateus
ferrenhos de manhã e ir a Fátima à tarde, se isso ajudar. A diferença é o Chega ultrapassar limites
considerados linhas vermelhas, algumas delas pintadas um pouco à força.
Lembram-se do Tino de Rans nas últimas Presidenciais? Não
precisou de ideologia nenhuma para ter 152 000 votos, bastou ser
radicalmente diferente dos padrões estabelecidos. Viajando um pouco: Pepe Grillo
em Itália, Tiririca no Brasil e Trump nos USA têm o seu sucesso baseado
exatamente na mesma tática: enviar “aquela parte” os de sempre e esse
palavreado encontrar ouvidos recetivos.
Gritar “Aqui d’el Rei!” contra a “ideologia” do Chega,
manifestamente não chega!
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