Colocar estas duas obras a par é um abuso. Aceito até que alguém se possa zangar comigo. Uma é um filme ficcionado e a outra um livro, de um testemunho real. Uma desenrola-se em Marrocos, num subúrbio pobre de Casablanca, Sidi Moumen, a outra passa-se em França, a começar em Nantes.
Em comum: ambos os protagonistas passaram por uma militância islâmica. Um num grupo radical, o outro na Irmandade Muçulmana (e é neste paralelo abusivo que alguém se pode zangar comigo). A Irmandade Muçulmana no Egito, na fase inicial, poderia estar perto dos salafistas jiadistas, mas agora a sua prática, pelo menos em França, é outra.
Um dos protagonistas acaba como bombista suicida, situado nos atentados de Casablanca de 2003; o outro acaba pacificamente divorciado do islão político. Antes de continuar nas comparações, o filme “Os Cavaleiros de Deus”, com subtítulo “Ninguém nasce mártir”, de Nabil Ayouch, vale bem a pena ser visto e refletido. É uma história simples e dramaticamente banal, um contexto comum a milhões de possíveis futuros mártires e mostra como é simples alguém dali se transformar em assassino. O livro é também muito interessante. Em nenhum outro registo, e já li bastantes, encontrei uma linha tão clara e bem definida a separar o muçulmano do islamista, de como é possível viver essa fé em paz com o nosso tempo e com os outros. Talvez a sobrevivência à experiência de militância tenha sido fundamental para Farid conseguir a clarificação.
O que ambos têm em comum, que mos fez fotografar a par, é, num dado momento, haver um divórcio entre o individuo e o seu meio e o seu futuro, justificado ou não. Uma desistência. Entende-se mais facilmente que Yachine se revolte contra a cidade rica, a partir do seu bairro da lata sem perspetivas, do que Farid invente um inimigo na França onde tinha nascido e onde estava integrado. Este estado de espírito de desistência e de fragilidade é capturado e manipulado por um projeto de poder, agudizando o divórcio e extremando posições. Para não se zangarem mais comigo, acrescento que este tipo de manipulação não é específico nem único do Islão. Outras religiões também a praticam, assim com outros poderes, incluindo a marginalidade clássica. É fundamental que o Islão e os muçulmanos consiguam viver sem esse foco permanente nos “outros”, nos “inimigos”. Pode haver fé e prática dela sem confrontação, sem inimigos? Pode e deve.
Em comum: ambos os protagonistas passaram por uma militância islâmica. Um num grupo radical, o outro na Irmandade Muçulmana (e é neste paralelo abusivo que alguém se pode zangar comigo). A Irmandade Muçulmana no Egito, na fase inicial, poderia estar perto dos salafistas jiadistas, mas agora a sua prática, pelo menos em França, é outra.
Um dos protagonistas acaba como bombista suicida, situado nos atentados de Casablanca de 2003; o outro acaba pacificamente divorciado do islão político. Antes de continuar nas comparações, o filme “Os Cavaleiros de Deus”, com subtítulo “Ninguém nasce mártir”, de Nabil Ayouch, vale bem a pena ser visto e refletido. É uma história simples e dramaticamente banal, um contexto comum a milhões de possíveis futuros mártires e mostra como é simples alguém dali se transformar em assassino. O livro é também muito interessante. Em nenhum outro registo, e já li bastantes, encontrei uma linha tão clara e bem definida a separar o muçulmano do islamista, de como é possível viver essa fé em paz com o nosso tempo e com os outros. Talvez a sobrevivência à experiência de militância tenha sido fundamental para Farid conseguir a clarificação.
O que ambos têm em comum, que mos fez fotografar a par, é, num dado momento, haver um divórcio entre o individuo e o seu meio e o seu futuro, justificado ou não. Uma desistência. Entende-se mais facilmente que Yachine se revolte contra a cidade rica, a partir do seu bairro da lata sem perspetivas, do que Farid invente um inimigo na França onde tinha nascido e onde estava integrado. Este estado de espírito de desistência e de fragilidade é capturado e manipulado por um projeto de poder, agudizando o divórcio e extremando posições. Para não se zangarem mais comigo, acrescento que este tipo de manipulação não é específico nem único do Islão. Outras religiões também a praticam, assim com outros poderes, incluindo a marginalidade clássica. É fundamental que o Islão e os muçulmanos consiguam viver sem esse foco permanente nos “outros”, nos “inimigos”. Pode haver fé e prática dela sem confrontação, sem inimigos? Pode e deve.
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