Penso que qualquer potencial notável nacional, seja pela pena, pelas armas, pelas chuteiras, pelas guitarras, pela retórica e até mesmo, quem sabe, pela influência nas redes sociais, tem interesse em deixar expresso onde pretende que os seus ossos tranquilamente repousem.
Nunca se sabe se os chamados eleitos da nação não irão um
dia requisitar os seus restos para ornamentar um qualquer supostamente
prestigioso depósito de sepulturas. Alguém imagina, por exemplo, Miguel Torga,
satisfeito com a ideia de sair do seu S. Martinho de Anta, atravessar o Marão e
ir para Lisboa, ele, para quem “a nação não morre de amores pela capital e esta
paga-lhe na mesma moeda”?
Para lá desta falta de gosto e de decência de remexer em
velhos jazigos, para lá da abrangência curta ou excessiva do nosso Panteão,
homenagear os que “da lei da morte se libertaram”, não passa por andar em macabras
bolandas com os seus restos. Passa sim por promover e divulgar a sua obra. O
mais importante não é onde ficam os ossos, é o que resta da vida. Mais
importante do que o material morto é o imaterial vivo.
Este folhetim atual com a transladação dos restos mortais de
Eça de Queiroz dava uma excelente novela queirosiana. Haja quem a escreva com a
fineza e elegância do grande mestre, independentemente do local onde os seus
ossos repousarão um dia.
2 comentários:
Exactamente
De tão ougados por protagonismo, estes politicos de meia tijela nem sequer permitem que o pobre do Eça tenha direito a "Descansar em Paz" .
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