Uma coisa são os venenosos e hipócritas frequentadores de sacristias; outra coisa são as instituições cristãs genuinamente solidárias e humanas.
Uma coisa foram os Torquemadas, outra coisa foi a criação
artística e intelectual que a religião promoveu.
Uma coisa foi a mafiosa gestão financeira no Vaticano, outra
coisa é o apoio social que em tantos cantos perdidos a igreja proporciona.
Uma coisa é um regime intolerante que impõe uma religião única,
a mesma coisa são os que a tentam proibir a sua prática.
A lista pode continuar, mas com tantos duns e doutros, é
certamente uma grande ligeireza ficarmos divididos e ter que optar entre os que
incensam cada cruz que lhes apareça à frente e os que “pavolvianamente” rosnam
a qualquer sotaina que se aproxime.
Passando por uma declaração de interesse, anunciando-me como
agnóstico de matriz cultural cristã, não posso deixar de reconhecer que os
princípios fundamentais do cristianismo são mais pela tolerância do que pela
proibição, mais por promover o coletivo do que destacar o individual, mais pela
dignificação do ser humano do que pelo seu aviltamento, mais pela inclusão do
que pela exclusão, mais pela primazia da paz do que pela afirmação pela guerra.
Sim, houve, há e haverá desvios, como em tudo, como sempre.
Por isto tudo, sendo as jornadas mundiais de juventude uma
festa bonita, se não gostam, não olhem, não ouçam, mas deixem-nos festejar. O
fato de não gostarem não devia implicar raiva e menosprezo por quem lá está.
Tolerância, senhores!
Por maiores que sejam as crenças em materialismos,
racionalismos e outros ismos, a religião não vai desaparecer da face da terra
nem do horizonte espiritual de muitos. E mais vale promover festas assim do que
outras coisas…
Acrescentada a 6/8 a versão impressa.
5 comentários:
A azia incomoda muito,principalmente aos que têm maus fígados.
Há uns iluminados que se julgam possuidores de uma luz tão absoluta e certa que devem apagar todas as outras. A igreja já foi assim, mas evoluiu... tenhamos esperança.
Isto recorda-me uma figura muito interessante, Pierre Claverie, bispo de Orão, assassinado por fundamentalistas que dizia "precisar da verdade dos outros".
Mais detalhe aqui
https://glosa-crua.blogspot.com/2018/07/sobre-verdade-dos-outros.html
O teu comentário fez-me lembrar a frase atribuída a Voltaire:
“Deus não existe; mas não digam isso ao meu criado, não vá ele matar-me durante a noite.”
O teu comentário fez-me lembrar a frase atribuída a Voltaire:
“Deus não existe; mas não digam isso ao meu criado, não vá ele matar-me durante a noite.”
Júlio, não creio que a heresia nesse contexto fosse assim tão arriscada, mas nos tempos que correm, noutros contextos, a apostasia ainda é crime para pena de morte...
Enviar um comentário