13 julho 2021

Florentino Ariza


Quis o azar ou a sorte que um destes dias me tenha passado à frente dos olhos uma versão cinematográfica do “Amor nos tempos de cólera” do imortal Garcia Marquez, um dos destaques da minha biblioteca, um daqueles autores que cabe nos dedos de uma mão do topo das minhas preferências.

O filme, entendo que bem feito e agradável de ver, não transmite a intensidade, a exuberância e o génio narrativo de Gabo, mas isso seria provavelmente missão impossível. O enredo está lá e no final reencontramos algo de único e de todos na figura de Florentino Ariza, que espera determinado mais de 50 anos para atingir o seu sonho, neste caso o amor de Fermina.

Acho que um bom livro se pode ler de trás para a frente e também, por vezes, para o lado. E esta determinação em atingir algo, custe o que custar, demore o que tive que demorar é um desígnio que pode não ser exclusivo do amor. Recordo-me, por exemplo, do Quixotesco “sonhar o sonho impossível” de Jacques Brel, não desconsiderando obviamente o original cavaleiro da triste figura.

Será patético e absurdo passar a vida na esperança de um improvável que apenas parece viável ao próprio? Será um desperdício? Talvez sim, talvez não. A ânsia e a busca da beleza, da verdade, da perfeição são uma excelente melodia para o despertador matinal.

Se para a persistência resultar e se atingir o supremo desígnio, é necessário declarar uma situação de cólera e colocar um pequeno mundo em quarentena é outra questão. Há doenças e doenças.

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