Quis o azar ou a sorte que um destes dias me tenha passado à frente dos olhos uma versão cinematográfica do “Amor nos tempos de cólera” do imortal Garcia Marquez, um dos destaques da minha biblioteca, um daqueles autores que cabe nos dedos de uma mão do topo das minhas preferências.
O filme, entendo que bem feito e agradável de ver, não
transmite a intensidade, a exuberância e o génio narrativo de Gabo, mas isso
seria provavelmente missão impossível. O enredo está lá e no final reencontramos
algo de único e de todos na figura de Florentino Ariza, que espera determinado
mais de 50 anos para atingir o seu sonho, neste caso o amor de Fermina.
Acho que um bom livro se pode ler de trás para a frente e
também, por vezes, para o lado. E esta determinação em atingir algo, custe o
que custar, demore o que tive que demorar é um desígnio que pode não ser
exclusivo do amor. Recordo-me, por exemplo, do Quixotesco “sonhar o sonho
impossível” de Jacques Brel, não desconsiderando obviamente o original
cavaleiro da triste figura.
Será patético e absurdo passar a vida na esperança de um
improvável que apenas parece viável ao próprio? Será um desperdício? Talvez
sim, talvez não. A ânsia e a busca da beleza, da verdade, da perfeição são uma
excelente melodia para o despertador matinal.
Se para a persistência resultar e se atingir o supremo
desígnio, é necessário declarar uma situação de cólera e colocar um pequeno
mundo em quarentena é outra questão. Há doenças e doenças.
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