Já por aqui referi as duas visões simplificadas da presença e herança muçulmana por estes lados. Um destes dias resolvi espreitar o que se diz sobre o tema em terras irmãs. Encontrei algumas semelhanças. Na forma como os reinos cristãos procuram uma afirmação hegemónica cultural menorizando essa herança nos atos e na narrativa histórica e também na forma como caçadores do exótico, hipnotizados pela diferença perdida vêm herança mesmo onde ela nunca existiu.
E encontrei duas Espanhas. Um na zona onde a permanência foi
longa e após a reconquista persistiram comunidades muçulmanas. Comunidades não
integradas e supostamente colaborantes com os piratas mouros do norte de África
que saqueavam e capturavam escravos na costa levantina. O facto de Granada ter
ficado muçulmana ainda dois séculos após a reconquista principal, contará
bastante para a persistência dessas comunidades, a sua visibilidade e conflitualidade.
Chegou a ser decretada em 1609 uma ordem de expulsão formal dos mouriscos de
Espanha, que se encontravam principalmente no Sudeste, especialmente por Valencia e
Aragão.
Depois, há a outra Espanha, onde os muçulmanos foram
efetivamente mais uma passagem do que uma presença, especialmente na Galiza. Aí
mouros e mouras são um elemento fantástico, não necessariamente de carne e osso.
Vivem em poços, fontes, enterrados na terra e, mais do que pelas espadas e
adagas, se receiam pelos encantamentos e fenómenos sobrenaturais. Coisas
estranhas e inexplicáveis são candidatas a “coisas de mouros”, muitas vezes
refletidas na toponímia.
Em Portugal encontra-se certamente o equivalente desta visão galega, mas muito menos a outra. Não sendo especialista, não me recordo de ver referencias a relatos de tensões e rebeliões envolvendo comunidades muçulmanas pós-reconquista, muito menos no século XVII. Porquê? Certamente o além do Tejo, onde a presença foi mais longa, teria uma dinâmica e importância (e demografia?) incomparavelmente menores do que a costa levantina e isso conte para alguma coisa… tema a seguir
2 comentários:
A comunidade muçulmana que expulsou os visigodos da península ibérica e converteram as populações ao islamismo, deixaram um legado rico em saber e costumes. É por isso que se diz que os muçulmanos levaram 100 anos para conquistar a península ibérica e 700 anos para serem expulsos.
Júlio
Quem por cá estava antes dos muçulamanos (estes mais berbéres do que árabes) não tinha a coisa muito bem organizada e eles entraram com alguma facilidade a partir de 711.
O tempo de permanencia depende muito das zonas. Os 7 séculos são apenas para Granada. O Algarve e a maior parte das cidades do Andaluz (Sevilha, Córdova, etc) são conquistadas na primeira metade do século XIII.
Se pensares na Galiza e no Porto, a permanencia é muito menor...
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