Há uns dias atrás escrevi que as restrições drásticas impostas pelo Governo à circulação dos cidadãos equivaliam a desresponsabilizar e infantilizar o povo, tratando-o como pequenos “Vitinhos”, que é preciso alguém mandar para a caminha. A evolução da pandemia, entretanto conhecida, e o novo confinamento mais severo anunciado parecem sugerir que eu estava errado e que se houve falha da parte do Governo foi por não ter imposto mais restrições no Natal.
Entendo que não, que a culpa da explosão dos números não é
do governo, mas sim de comportamentos individuais. Estamos num terreno onde não
podemos assumir ser aceitável tudo o que não for proibido e que, se alguém fez
asneira, a culpa é do Governo, que não o proibiu.
Sim, há questões de saúde pública e de saturação das
infraestruturas sanitárias, mas… Não falta quem tenha tido necessidade de
tratamento por comportamentos evitáveis do próprio ou de terceiros. Vamos proibir
o tabaco para limitar o cancro do pulmão, as bebidas alcoólicas pelo fígado e
demais complicações, os rojões por causa do colesterol, caminhar na rua pelos atropelamentos,
passear de bicicleta para não haver ossos partidos e ir à praia entre as 12 e
as 15h para reduzir o cancro da pele... e poderíamos continuar com uma longa
lista de proibições destinadas a aliviar o SNS.
Há uma diferença fundamental a ter em conta. É entre os riscos
conhecidos, integrados cultural e quantitativamente, e o Covid-19 onde pisamos
terreno ainda pouco conhecido. Estamos habituados a ser “normal” morrer por
falta de meios atempados de tratamento para uma doença “clássica”; morrer de
Covid-19 por saturação do SNS é que não se aceita.
A culpa do contágio só será do Governo num país de Vitinhos.
A saturação do SNS é outra história. Seremos efetivamente Vitinhos que sem
ordem para ir dormir não o fazem?
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