26 janeiro 2021

Falta de comparência

É a expressão que me parece mais adequada para caraterizar as recentes eleições presidenciais. Falta de comparência dos dois principais partidos que não entraram a sério nas mesmas. O PS “principal” queria Marcelo reeleito, mas não o quis assumir, nem apresentar candidato próprio; Marcelo é PSD, mas não quis assumir essa colagem ao seu partido. Não me recordo de ver nenhum senador destes dois partidos a dar a cara ativamente na campanha. É assim tão irrelevante o PR em Portugal? O eleitorado com o qual o PC e o BE contavam para carimbar a presença ritual dos seus candidatos também não comparecerem conforme as previsões. No caso do CDS a falta de comparência é mais funda, é da própria liderança.

O Chega e a IL estão a capitalizar a sua recente visibilidade no Parlamento e a sua “diferença”, nem sempre pelas melhores razões. Aliás, a promoção feita de André Ventura, a partir de iniciativas com objetivo oposto, acabou por se tornar o tema principal da campanha. Evoca-me a imagem de, face a uma pústula, o doente a espreme, espalhando o pus e o mal, em vez de verdadeiramente tratar a causa. Sendo este crescimento o fato mais relevante em termos de evoluções futuras, algumas reflexões.

Os partidos unipessoais não têm muita perenidade e este hoje vive todo do protagonismo exclusivo do seu líder. Não sei como o “mister” se irá aguentar quando/se um dia precisar de mostrar uma equipa em torno dele, em vez de apenas mandar algumas bocas algo assertivas e outras bazófias de mau gosto/princípio. Candidatos excitados pelas cadeiras disponíveis que se pressentem não devem faltar, mas de que perfil e com que efeito na identidade do partido? Lembram-se do PRD?

O Chega não teve (terá?) sucesso pela tal ideologia de extrema-direita. Essa era a do PNR de Mário Machado que nunca entusiasmou gente que se visse. Se o Alentejo “Ainda há-de ser Chega!” é por outros motivos. Ignorá-lo é falta de comparência ao diagnóstico sério.


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