17 março 2018

Um caso de amor


Tenho uma pequena dúzia de autores com quem criei um relacionamento forte. Na prática, depois de ler um ou dois livros, dá-me vontade de ir atrás de tudo o que escreveram. John Steinbeck é um deles. Mais o do “A Leste do Paraíso”, “A um Deus Desconhecido”, “Pastagens do Céu” e menos o de “As Vinhas da Ira” ou “O Milagre de S Francisco”.

Depois de uma dúzia e meia de títulos do mestre alinhados na estante, aparece-me recentemente, por acaso, este desconhecido, aqui na imagem. É uma história simples, uma sinopse da mesma pouco diria, mas, muitas vezes, são as melhores.

A força da caraterização dos personagens, a riqueza com que pequenos detalhes deliciosamente os pintam, fazem a magia de um quadro da natureza humana. Porque a riqueza e complexidade da mesma não existe apenas nas situações ultradramáticas ou heroicas. A beleza e a subtileza da condição humana estão muitas vezes apenas no quotidiano e no banal. Nem toda a gente passa por episódios extremos, a maior parte certamente não, e não é por isso que deixam de ser interessantes e emocionalmente ricas.

Considero que as melhores histórias são precisamente estas. Onde não existe uma saga, uns doze trabalhos de Hércules ou uma desgraça de fazer chorar as pedras do caminho. São apenas aquelas em que simplesmente há gente, gente variada, sem heroísmo nem maquiavelismo, simplesmente olhando para a sua vida e a dos outros e … andando.

Estas são também as mais difíceis de escrever, não estão ao alcance de qualquer um. Precisamente por isso, não há muitos “Steinbecks”.

5 comentários:

jorge neves disse...

Não referiu "O Velho e o mar".

jorge neves disse...

Asneira, estava a pensar no Hemingway. Já é sono.

Carlos Sampaio disse...

Acontece aos melhores.. !
O Hemingway tem lá um lugar na estante, mas devem ser uma meia dúzia, ou pouco mais. Aqui para o Steinbeck, a ideia era distinguir os livros que ele tem mais “interventivos” dos mais “humanos”… os adjetivos não serão os perfeitos, mas deve dar para se ficar com uma ideia.

Amaro Rocha disse...

Li, na minha juventude, "A Leste do Paraíso". Reli-o à pouco tempo. Fantástico!
Por altura do nascimento do meu primeiro filho li "A Um Deus Desconhecido". Por essa altura plantei um carvalho no meu quintal. Hoje é uma árvore adulta e tal como Steinbeck descreveu na sua obra tornou-se "o meu ponto de referência".
Atualmente, várias obras de John Steinbeck tem sido reeditadas. Uma oportunidade para enriquecer as nossas estantes.
O Post "Um Caso de Amor", publicado pelo Sr Carlos Sampaio, é, portanto, muito oportuno!
Com os melhores cumprimentos
Amaro Rocha

Carlos Sampaio disse...

Caro Amaro Rocha

Obrigado pelo comentário.

Carlos Sampaio