24 março 2018

Caminhar, muito


Coisa bonita um sorriso e, muito mais do que bonita, preciosa. Preciosa para guardar e bem cuidar. A resguardar e acarinhar muito, muito, o maior, o herdado da infância, dos dias das mil e uma expetativas, de quando o tempo tinha tudo por estrear.

Sim, são bonitos os sorrisos, mesmo quando são tristes. Não é incompatível. Muito pior será um sorriso banal, de quem lhe perdeu a força ou ignora o jeito. Um sorriso triste é uma promessa, um saber, um acreditar.

Não é mau estar triste. Melhor triste por faltar algo, e isso encarar, do que satisfeito com algum tão pouco. Tão pouco deve incomodar um tão pouco à nossa volta. Nada trava, nada afeta. Caminhar muito, sempre muito. Nalguma esquina estará uma mão pronta a num corpo desaguar.

Um dia, por um dia, por um mês, um ano ou um resto de vida, haverá uma mão na outra. Restaurado o sorriso guardado, cuidadosamente, não estragado, não banalizado. Até lá, não desistir, caminhar, muito, o que for preciso caminhar. De vez em quando, fugazmente, arriscar. Tentar, praticar, cuidar.

Até esse dia, ser feliz, mesmo estando triste. Feliz por caminhar, muito, sempre muito, de mão aberta e peito disposto a abraçar. Pelo caminho, não pedir contas ao mar. E crer, num dia, num sorriso par.

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