Se houvesse um programa obrigatório para quem pretendesse falar publicamente sobre a questão do Islão político e do que ele arrasta, este livro deveria constar do mesmo. Um registo claro, objetivo e elucidativo, apesar dum toque de emoção excessiva no tratamento dos tempos mais recentes do Egito, pós 2011, as tais primaveras que toda a gente imagina conhecer com mais ou menos lirismo, com mais ou menos “conspiracionismo”. O problema está em que nestas e em muitas coisas raramente a realidade coincide com aquilo que a ignorância imagina.
É de uma simplificação enorme resumir as tensões no último século no Médio Oriente a uma história entre árabes, supostamente culturalmente homogéneos e alinhados, como Nasser gostaria, e intervencionismo desestabilizador localmente instalado, Israel, ou de braço longo, o ocidente colonizador que nunca desiste de interferir. Ao longo de todo este percurso, de alianças feitas e desfeitas, assumidas ou dissimuladas, eles estão lá, sempre à espreita, sempre ativos, sem desarmarem nunca: a Irmandade Muçulmana.
Nascida no trauma pós queda do império Otomano, advogando um regresso à “pureza original”, o salafismo, invocando um modelo de organização de sociedade fechado e anacrónico, negando toda e qualquer evolução, já está tudo escrito no livro, a Irmandade é um projeto sem futuro racional. A realização da Oumma, a grande comunidade muçulmana, o califado, de governo único, sem países, é também tão viável quanto a terra vir a ser plana. No entanto, cem anos depois, estão vivos e ativos, adaptando-se continuamento ao contexto. Se os petrodólares apoiaram, se as desilusões pós-independências ajudaram, há mais do que isso. Há uma mensagem que encontra aderência nas populações, década após década.
A herança não é bonita. O discurso hegemónico e intolerante fez muitos estragos, desde os simples crimes contra a comunidade copta no Egito, à inspiração dos movimentos jihadistas, até à preocupante reversão do sistema politico nalguns países, incluindo a Turquia. Sim, o Sr. Erdogan é da “família”.
Curiosamente se a religião é fácil e frequentemente manipulada como ferramenta de acesso e consolidação do poder, esta missão dos “irmãos” viveu e sobreviveu décadas sem atingir esse objetivo, excluindo os casos “especiais” do Sudão e da faixa de Gaza. As suas experiências de poder democrático, pós primaveras, foram tudo menos consolidadas, especialmente nos casos mais emblemáticos da Tunísia e do Egito. Por falta de jeito, de quadros, ou deficiência de princípios e sistema, não souberam governar, mesmo. O que acontecerá a seguir na Turquia é hoje a grande questão.
É de uma simplificação enorme resumir as tensões no último século no Médio Oriente a uma história entre árabes, supostamente culturalmente homogéneos e alinhados, como Nasser gostaria, e intervencionismo desestabilizador localmente instalado, Israel, ou de braço longo, o ocidente colonizador que nunca desiste de interferir. Ao longo de todo este percurso, de alianças feitas e desfeitas, assumidas ou dissimuladas, eles estão lá, sempre à espreita, sempre ativos, sem desarmarem nunca: a Irmandade Muçulmana.
Nascida no trauma pós queda do império Otomano, advogando um regresso à “pureza original”, o salafismo, invocando um modelo de organização de sociedade fechado e anacrónico, negando toda e qualquer evolução, já está tudo escrito no livro, a Irmandade é um projeto sem futuro racional. A realização da Oumma, a grande comunidade muçulmana, o califado, de governo único, sem países, é também tão viável quanto a terra vir a ser plana. No entanto, cem anos depois, estão vivos e ativos, adaptando-se continuamento ao contexto. Se os petrodólares apoiaram, se as desilusões pós-independências ajudaram, há mais do que isso. Há uma mensagem que encontra aderência nas populações, década após década.
A herança não é bonita. O discurso hegemónico e intolerante fez muitos estragos, desde os simples crimes contra a comunidade copta no Egito, à inspiração dos movimentos jihadistas, até à preocupante reversão do sistema politico nalguns países, incluindo a Turquia. Sim, o Sr. Erdogan é da “família”.
Curiosamente se a religião é fácil e frequentemente manipulada como ferramenta de acesso e consolidação do poder, esta missão dos “irmãos” viveu e sobreviveu décadas sem atingir esse objetivo, excluindo os casos “especiais” do Sudão e da faixa de Gaza. As suas experiências de poder democrático, pós primaveras, foram tudo menos consolidadas, especialmente nos casos mais emblemáticos da Tunísia e do Egito. Por falta de jeito, de quadros, ou deficiência de princípios e sistema, não souberam governar, mesmo. O que acontecerá a seguir na Turquia é hoje a grande questão.
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